Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou a existência de um esquema de corrupção bilionário envolvendo associações de aposentados, parlamentares e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A entidade AAPPS Universo, com sede em Aracaju (SE), é apontada como centro de uma rede de fraudes que desviou R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, com descontos indevidos em benefícios previdenciários.
Segundo a PF, apenas entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, a AAPPS Universo movimentou R$ 95 milhões em contas bancárias diversas, numa tentativa de dificultar o rastreamento dos valores. A estratégia incluía transferências pulverizadas e o uso de beneficiários como laranjas, disfarçando os desvios como pagamentos pessoais.
Esquema incluía “mensalão” a parlamentares, diz jornal
O caso, que já levou à deflagração de nova fase da Operação Sem Desconto, envolve ainda suspeitas de pagamento de propinas a parlamentares. Segundo a Band News, cerca de 15 deputados e senadores estariam recebendo até R$ 50 mil por mês para facilitar o acesso das associações aos dados de aposentados e garantir influência sobre o INSS.
O esquema incluía indicações políticas, liberação de cadastros e acesso a informações sigilosas, como CPF, endereço e número de benefício. Com esses dados, associações como a AAPPS realizavam descontos automáticos nos benefícios dos idosos, muitas vezes sem autorização ou sequer conhecimento das vítimas.
Investigados já prometeram revelar os nomes dos políticos envolvidos, o que deve aprofundar a crise e expor um aparelho institucional paralelo alimentado por dinheiro público.
Crescimento repentino e suspeito
A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou um aumento vertiginoso na arrecadação da AAPPS: de R$ 5 milhões em 2022 para R$ 57,9 milhões em 2023 — crescimento de mais de 1.000% em apenas um ano. Para os investigadores, esse salto revela a intensificação das práticas fraudulentas e a consolidação do esquema criminoso com apoio político.
A Justiça Federal, atendendo a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), determinou o bloqueio de R$ 23,8 milhões em bens de investigados e empresas suspeitas, com o objetivo de ressarcir as vítimas da fraude. As ações envolvem também a APDAP Prev, outra associação alvo da operação desde sua primeira fase.
Omissão do governo e silêncio da base de Lula
Diante da magnitude da fraude, o silêncio do governo federal e da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama atenção. Enquanto aposentados foram vítimas de descontos não autorizados e manipulação criminosa, nenhum pronunciamento firme foi feito até o momento pelo Palácio do Planalto ou pelo Ministério da Previdência.
Em vez de anunciar medidas efetivas contra os responsáveis ou transparência sobre os vínculos políticos com as entidades investigadas, o governo tem se omitido diante de um escândalo que atinge diretamente a população mais vulnerável do país.
Estima-se que milhões de aposentados tenham sido vítimas diretas ou indiretas da fraude, que expõe falhas gravíssimas no controle de acesso aos dados do INSS e levanta suspeitas sobre conivência institucional com práticas abusivas.
A expectativa agora é que a PF e a Justiça Federal avancem nas investigações sobre o braço político do esquema, e que os nomes dos parlamentares envolvidos venham à tona. Também é aguardado o posicionamento firme do Congresso Nacional, que até agora tem evitado lidar publicamente com a denúncia de “mensalão previdenciário”.
O escândalo ameaça se tornar um dos maiores casos de corrupção da história recente envolvendo o INSS — e cobra explicações urgentes do governo Lula, que foi eleito com a promessa de defesa dos mais pobres, mas parece falhar justamente na proteção dos aposentados do país.