Em meio à condenação internacional das recentes decisões antidemocráticas do ditador Nicolás Maduro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) permanece em silêncio em relação às manobras políticas venezuelanas, o que não foi surpresa. Com as eleições presidenciais previstas para este ano no país, Maduro tornou inelegível sua principal concorrente pelos próximos 15 anos, em uma ação vista como mais uma tentativa do ditador de consolidar seu longo domínio no cargo presidencial.
A hesitação de Lula em abordar o tema pode ser atribuída ao receio de que qualquer comentário possa impactar as relações bilaterais ou refletir a cautela diante das várias declarações contraditórias que fez sobre Maduro e seu regime.
Em 2023, o Brasil iniciou mediações com Caracas para um acordo com os Estados Unidos, que concordaram em aliviar os embargos comerciais à Venezuela em troca do compromisso de eleições democráticas e seguras. No entanto, Maduro parece não estar disposto a deixar o cargo por meio do sufrágio e não tem cumprido suas obrigações no acordo.
Recentemente, o Supremo Tribunal de Justiça venezuelano confirmou a desqualificação da candidatura da oposicionista María Corina Machado para as próximas eleições. Apesar disso, Lula, mantendo sua histórica parceria com Maduro, ainda não se manifestou sobre o assunto.
O presidente vinha trabalhando nos últimos meses para melhorar a imagem do líder venezuelano, chegando até mesmo a defender o regime em algumas ocasiões. Em uma tentativa de reabilitação da imagem do país vizinho, Lula e seu assessor para assuntos especiais, Celso Amorim, auxiliaram Caracas na busca por eleições democráticas e participaram das negociações do Acordo de Barbados entre EUA e Venezuela.
Embora outros países, a OEA e até mesmo a Argentina tenham condenado as manobras de Maduro, a relação histórica entre Lula e o líder venezuelano manteve o presidente brasileiro em silêncio até o momento. Lula, desde seu terceiro mandato, retomou relações diplomáticas com a Venezuela, contribuindo para a negociação do Acordo de Barbados.
Apesar dos esforços de Maduro para evitar concorrentes nas eleições, os Estados Unidos decidiram retomar as sanções, inicialmente proibindo negociações com mineradoras venezuelanas. A situação continua tensa, com ameaças de sanções à indústria petrolífera se Maduro persistir nas manobras eleitorais.
A inelegibilidade de María Corina Machado, principal opositora de Maduro, remonta a 2021, quando a Controladoria Geral da Venezuela a considerou inelegível por 15 anos, alegando irregularidades administrativas durante seu mandato parlamentar. A decisão foi mantida recentemente pela Suprema Corte venezuelana.
A aproximação de Lula com o governo venezuelano remonta à era de Hugo Chávez, antecessor de Maduro. Chávez, amigo próximo de Lula, implementou o regime ditatorial vigente na Venezuela, marcando o início da Revolução Bolivariana. A relação entre Lula e a Venezuela persiste, apesar das críticas e das acusações contra Maduro por violações de direitos humanos e corrupção no sistema eleitoral.