O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, persiste na busca pela meta de déficit primário zero, mas a inevitabilidade da mudança paira. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, destaca que o impacto dependerá da agressividade da nova meta. Se ultrapassar 1%, acende-se um alerta amarelo no mercado, adverte Mesquita, aumentando o risco fiscal no Brasil.
Em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, Mesquita ressalta que o governo enfrentará a escolha entre alterar a meta, implementar contingenciamento ou adotar uma combinação dos dois. Ele enfatiza a importância de continuar lutando e sugere que a mudança da meta ocorrerá em março, sendo preferível que isso ocorra mais tarde.
Quanto ao crescimento, Mesquita observa que o Brasil está em busca de uma narrativa para uma expansão sustentável, enfatizando que o retorno a uma visão estatista já tentada no país não foi bem-sucedido. Ele aponta a transição verde como um caminho promissor, embora ainda não esteja clara para o mundo.
Sobre as preocupações dos investidores estrangeiros no Brasil, Mesquita destaca que a questão fiscal é a principal, sendo o “calcanhar de Aquiles”. Ele compartilha as principais dúvidas do mercado, relacionadas à economia global, à política do Federal Reserve e do Banco Central Europeu, bem como às questões geopolíticas em regiões como Ucrânia e Oriente Médio.
Ao abordar o cenário internacional em 2024, Mesquita menciona a polarização nas relações entre Brasil e Estados Unidos e a preocupação com a queda de juros nos EUA. Ele aponta que a deterioração fiscal nos EUA impacta países emergentes, especialmente os mais frágeis, e prevê uma queda de juros nos EUA para 3% a 2,5% a médio prazo.
Quanto à expectativa de corte de juros no Brasil, Mesquita considera que a flexibilização monetária em um ambiente não crítico favorece os ativos de risco e as economias emergentes. No entanto, ele destaca que o Banco Central prevê uma Selic de 9% no final do ano, sugerindo que, para ser mais otimista, seria necessário um corte mais acentuado do Fed nos EUA.
Finalmente, Mesquita aborda a questão fiscal no Brasil, indicando que uma mudança na meta é esperada em março. Ele ressalta que, se ultrapassar 1%, o mercado ficará preocupado, sendo acima de 1,5% um sinal mais vívido de alerta. A manutenção da desoneração da folha de pagamentos é vista como um desafio para estender a meta fiscal e a expectativa do banco é de zero contingenciamento de gastos em 2024. O crescimento do Brasil é considerado vital, e Mesquita destaca a necessidade de uma narrativa clara para impulsionar a expansão econômica, com a transição verde sendo um caminho potencial. O retorno ao capitalismo de Estado no Brasil é encarado com ceticismo, dado seu histórico pouco bem-sucedido e a ansiedade que isso causa entre os investidores internacionais.