O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciou hoje uma firme oposição da França ao acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. A declaração visa acalmar agricultores franceses que têm bloqueado diversas vias, em protesto contra as políticas governamentais.
“Conforme já anunciado pelo presidente da República [Emmanuel Macron], a França se opõe à assinatura do acordo com o Mercosul. Digo isso de maneira clara e enfática”, afirmou Attal a um grupo de agricultores manifestantes em Haute-Garonne, no sul do país.
O primeiro-ministro classificou o acordo como “uma lei da selva”, que prejudica os agricultores franceses. Vale destacar que a oposição francesa a esse acordo não é novidade, sendo que Macron já havia mencionado, em dezembro na COP28 em Dubai, a falta de reciprocidade nas normas ambientais entre a Europa e a América do Sul.
A recusa da França ocorre dois dias após os líderes do Mercosul, em reunião no Paraguai, indicarem a intenção de avançar nas negociações pendentes com a UE para finalizar o acordo. No entanto, a posição francesa pode impedir a ratificação, pois a aprovação de todos os 27 Estados-membros da UE, é necessária para que o acordo entre em vigor.
Partidos de oposição na França aproveitaram as manifestações dos agricultores, para criticar o governo de Macron antes das eleições europeias marcadas para junho. A líder populista de direita, Marine Le Pen, responsabiliza os acordos de livre-comércio e a burocracia pelos problemas econômicos dos agricultores franceses.
Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, abriu um painel de discussão para colocar a agricultura como tema prioritário na política comunitária, prometendo considerar algumas das reclamações dos manifestantes franceses.
Apesar da resposta positiva do governo às reivindicações dos agricultores, sindicatos do setor instaram os manifestantes a continuar as mobilizações em todo o país. O governo francês se comprometeu com medidas como liberação fiscal para o combustível agrícola, a negociação em Bruxelas de uma nova revogação da obrigação de deixar 4% das terras em pousio e a aceleração dos pagamentos para a Política Agrícola Comum (PAC) da UE.
Há pouco mais de uma semana, barricadas paralisaram o tráfego em centenas de quilômetros de rodovias na França. Nesta sexta-feira, algumas das principais vias de acesso a Paris foram interrompidas. Apesar de garantias do governo de não enviar policiais para dispersar os protestos, alguns episódios de violência foram registrados, incluindo incêndios em prédios públicos.
A insatisfação dos agricultores não se limita à França, com manifestações similares na Alemanha, Grécia e Polônia, onde os produtores rurais protestam contra diversas medidas governamentais.