O governo Lula está negociando a indicação do ex-ministro Guido Mantega como membro do Conselho de Administração da Vale, em um acordo estruturado em conjunto com os principais acionistas da mineradora, de acordo com fontes informadas sobre as discussões. Nesse contexto, o governo apoiaria a permanência do atual CEO, Eduardo Bartolomeo, à frente da mineradora por mais um mandato de três anos.
Embora o mandato de Bartolomeo só expire em maio, o Conselho de Administração da Vale precisa decidir até o final deste mês se ele continuará no cargo ou se um substituto será escolhido.
As negociações em andamento entre o governo e os acionistas também envolveriam a indicação de Luís Henrique Guimarães, ex-presidente do grupo Cosan, para a diretoria da empresa. Guimarães já faz parte do Conselho da Vale desde abril de 2023.
Mantega vem sendo considerado nos bastidores como uma opção do governo Lula para a Vale desde o início do novo mandato do presidente no Planalto, há um ano. Inicialmente, cogitava-se indicar o ex-ministro como CEO, substituindo Bartolomeo. No entanto, as regras de governança da Vale representam um desafio considerável para que Mantega assuma o cargo de CEO. Caso o Conselho decida pela substituição de Bartolomeo, seria necessário contratar uma consultoria internacional para formar uma lista tríplice, tornando improvável a aprovação do nome de Mantega, segundo especialistas e executivos familiarizados com o processo.
No entanto, para o cargo de membro do Conselho, as regras são menos rígidas, e Mantega teria condições de atender aos critérios para essa posição, afirmaram fontes. Além disso, a entrada de Mantega no Conselho não passaria por uma assembleia de acionistas, tornando a aprovação mais fácil. Caso haja renúncia, o substituto seria escolhido pelo próprio Conselho, sem a necessidade de votação pelos acionistas.
A indicação de Guimarães para a diretoria faria sentido, pois sua entrada abriria espaço para Mantega no Conselho. Guimarães já foi indicado como conselheiro em outubro de 2022, quando a Cosan anunciou a compra de 4,9% do capital da Vale.
Apesar da influência do governo sobre a Vale ter diminuído ao longo dos anos, a privatização nos anos 1990, a reestruturação societária em 2020 e as concessões de minas e ferrovias mantêm um certo grau de poder do governo sobre a empresa. O governo ainda possui uma ação especial (golden share) que permite vetar decisões sensíveis. O BNDES e a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, também podem exercer influência como acionistas relevantes. A decisão final sobre essas indicações e a composição do Conselho ficará a cargo das deliberações do Conselho de Administração da Vale.