Executivos da Âmbar Energia, empresa vinculada ao Grupo J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista, foram recebidos secretamente 17 vezes no Ministério de Minas e Energia antes da emissão de uma medida provisória que favoreceu um negócio da companhia no setor de energia elétrica, repassando os custos para todos os consumidores brasileiros. Tais reuniões ocorreram entre junho de 2023 e maio deste ano, envolvendo altos funcionários do ministério, mas tanto a pasta quanto a Âmbar negam que o tema da medida provisória tenha sido discutido durante esses encontros, sem detalhar o conteúdo das conversas.
Marcelo Zanatta, presidente da Âmbar, figurou em 13 dessas visitas não registradas na agenda oficial do ministro Alexandre Silveira. A última reunião com Zanatta ocorreu em 29 de maio, apenas uma semana antes do texto da medida provisória ser encaminhado à Casa Civil. Após a publicação da MP em 13 de junho, que beneficiou diretamente a Âmbar, questionamentos sobre transparência e lisura do processo foram levantados por parlamentares do partido Novo, especialmente pela velocidade incomum na aprovação da medida.
A medida provisória em questão visava resolver problemas financeiros da Amazonas Energia, subsidiária da Eletrobras, beneficiando indiretamente a Âmbar, que havia adquirido termelétricas da estatal. A empresa assumiu o risco de inadimplência desses contratos, coberto pela MP, e logo após a sua publicação, anunciou a compra das usinas por R$ 4,7 bilhões. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi acionada para investigar o negócio.
Tanto o ministério quanto a Âmbar enfatizaram que as reuniões não envolveram a discussão da medida provisória, mas não revelaram o conteúdo específico dos encontros. A falta de transparência e os potenciais conflitos de interesse continuam a ser objeto de questionamento público e político.