É uma raridade, eu sei, mas eu tinha uma forte admiração pela minha primeira professora de Física, Sheila. Ela era incrivelmente gentil, totalmente excêntrica e conseguia explicar física (especialmente física moderna) da maneira que eu gostaria que alguém explicasse para meus filhos. Uma cena em particular ainda me vem à mente. Ela jogando uma caneta para cima, mostrando o momento em que ela atinge o ponto mais alto do movimento, antes de cair. Desse modo, deveríamos calcular a altura máxima da caneta, dada uma aceleração inicial, e como a gravidade a desacelera até que sua velocidade se torne zero. No mundo financeiro, a situação não é tão encantadora. A “caneta”, neste caso, pode fazer uma pausa e “decidir” seguir o movimento original. Física pertence às ciências exatas – finanças estão (infelizmente) nas humanas.
De qualquer forma, quando observo os dados atuais, lembro-me de Sheila. O movimento inicial de queda da inflação, melhoria dos fundamentos e uma aposta certeira no risco, tudo isso reduzindo a velocidade. Parece estar se aproximando do ponto mais alto. Os dados começam a piorar, os discursos se tornam mais rígidos e os mercados perdem ímpeto. Será uma pausa ou uma reversão? O futuro dirá, mas eu ainda não sou capaz de prever. Poderei lhe contar em alguns meses, quando já for tarde demais. Por enquanto, enquanto observo a ata atual do COPOM, volto a lembrar da caneta. O ritmo acelerado de queda dos juros, os juros reais diminuindo e o discurso dovish estão perdendo força. A caneta ainda não parou, mas sua velocidade está diminuindo com essa tal gravidade (inflação e juros americanos).
Enquanto o “Alê do futuro” ainda não existe, o que o “Alê do presente” faz? Bem, essa é uma excelente pergunta, especialmente considerando que o “Alê do presente” é o único que continuará existindo (pelo menos até que deixe de existir) e tomando decisões sobre um futuro (que é uma nave espacial que tentamos pilotar) que, quando o conhecermos, já será presente e então será tarde demais. E quem ainda acredita que não é tarde demais é o Xi: indo em direção aos EUA para conversar com CEOs e garantir que é vantajoso fazer negócios com a China. Jack Ma, Xu Jiayin e toda a indústria de jogos têm argumentos convincentes contra essa narrativa, mas talvez ainda não seja tarde demais.