Os papéis comuns da Vale (VALE3) apresentam uma queda de 2%, atingindo R$ 68,50 às 16h16 (horário de Brasília) desta quinta-feira (25), mesmo diante do aumento de 1,6% no preço do minério de ferro em Dalian mais cedo.
A notícia de que a Justiça Federal condenou a Vale, BHP e Samarco a pagar R$ 47,6 bilhões como compensação por danos morais coletivos decorrentes do rompimento da barragem de Fundão em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, ganhou destaque. O montante deverá ser corrigido com juros desde a data da tragédia, ocorrida em 5 de novembro de 2015. Apesar de caber recurso, o pagamento será efetuado após a decisão transitar em julgado. As ações, já em declínio, aceleram as perdas para aproximadamente 2% após a divulgação da notícia durante a tarde.
Além disso, os investidores reagem às recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e monitoram a questão sucessória da mineradora, que já havia impactado as ações anteriormente.
Hoje, Lula, no antigo Twitter, recordou a tragédia de Brumadinho, ocorrida há cinco anos.
“Faz 5 anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. 5 anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada”, afirmou o presidente na rede social antigo Twitter, hoje X. Ele acrescentou: “É necessário o amparo às famílias das vítimas, recuperação ambiental e, principalmente, fiscalização e prevenção em projetos de mineração, para não termos novas tragédias como Brumadinho e Mariana”.
Essas críticas surgem em meio ao contexto de sucessão na Vale. Nos últimos dias, o presidente e aliados próximos intensificaram as críticas à mineradora. Existe a intenção, dentro do governo, em especial do Lula, de nomear Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, como diretor executivo da Vale.
A questão Mantega se torna um fator preponderante na Vale. O atual CEO da mineradora, Eduardo Bartolomeo, tem contrato vigente até 31 de maio. Conforme as regras estatutárias, o executivo deve ser informado com quatro meses de antecedência sobre a renovação de seu mandato ou se o conselho decidiu iniciar o processo de contratação de um novo presidente — prazo que se encerra em 31 de maio. Segundo o Globo, o conselho da empresa planeja se reunir entre amanhã (26) e terça-feira (30) para discutir o futuro de Bartolomeo.
Ontem, o mesmo jornal noticiou que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), telefonou para conselheiros da empresa para apoiar a escolha de Mantega, indicado por Lula para a presidência da companhia.
No entanto, analistas têm minimizado a possibilidade de Mantega assumir a liderança na Vale. O Bradesco BBI, na véspera, destacou que a única entidade governamental com participação na Vale é a Previ, com 8,7%. “Portanto, o governo precisará convencer outros acionistas para eleger Mantega como CEO”, afirmaram, mencionando que é mais provável que Mantega ganhe um assento no Conselho.
Nesta quinta-feira, é relevante notar que a presidente nacional do PT e deputada federal pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, defendeu a indicação do ex-ministro para o Conselho. “Pouquíssimos brasileiros são tão qualificados quanto Guido Mantega para compor o conselho da Vale, uma empresa estratégica para o país e na qual o governo tem participação e responsabilidades”, afirmou. Ela ainda destacou que a companhia é “estratégica para o país” e classificou sua privatização como “danosa”.
Enrico Cozzolino, da Levante, observa que a questão sugere uma possível interferência política, embora seja pouco provável que os acionistas da Vale aceitem a nomeação de Mantega.
No entanto, ele alerta para o risco de o governo utilizar poderes como licenças ambientais e tributação para pressionar a mineradora. “Há todo um jogo político a ser avaliado que, inicialmente, é desfavorável para a Vale”, destaca. “Precisamos aguardar.”