No contexto do crescente volume de exportação de grãos pelos portos do Arco Norte, uma inovação na forma de realizar transbordos está impulsionando o aumento da capacidade operacional dos terminais na região amazônica. Trata-se das estações de transbordo flutuantes, que se destacam por serem mais acessíveis, versáteis e rápidas de serem construídas em comparação com as estações tradicionais, instaladas em terra.
Essa tecnologia, originalmente desenvolvida para operações militares, visando transferir carga entre embarcações sem a necessidade de atracar nos portos, chamou a atenção de Eduardo Carvalho, presidente da Mega Logística, durante uma viagem aos Estados Unidos há 24 anos. “Eu vi que lá eles estavam descarregando e carregando um navio de sucata e daí pensamos: se pode fazer com sucata, pode fazer com qualquer coisa”, relembra o executivo. A construção do primeiro modelo, inicialmente com operações limitadas de minério de ferro, levou sete anos.
“A partir dali começamos a trabalhar num projeto mais robusto que tivesse capacidade de carregar navios Panamax com qualidade operacional e que resolvesse o problema dos portos, que já estavam afogados”, relata Carvalho. Com a queda nos preços do minério de ferro a partir de 2014 e o aumento na infraestrutura de escoamento de grãos pelo Arco Norte do Brasil, a Mega Logística fechou parceria com duas exportadoras de commodities agrícolas interessadas em uma operação 100% fluvial.
Atualmente, a empresa opera três Estações de Transbordo de Cargas (ETC) flutuantes no Arco Norte, de um total de quatro em operação na região. Em 2023, a Mega Logística movimentou 3 milhões de toneladas de granéis vegetais sólidos, com a previsão de alcançar 5 milhões de toneladas este ano.
Eduardo Carvalho destaca a flexibilidade logística oferecida pelas estações flutuantes, permitindo, por exemplo, a adição de um guindaste para dobrar a capacidade de operação ou a inclusão de uma boia para expandir o tamanho e receber dois navios. Além disso, o custo da estrutura é consideravelmente menor, representando apenas 10% do necessário para instalar uma estação em terra, cujo investimento pode atingir a marca de R$ 1 bilhão. “E eu não tinha R$ 1 bilhão para investir no negócio naquela época”, ressalta Carvalho.
Na análise de Flávio Acatauassú, presidente da Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport), esse novo modelo desempenha um papel fundamental na expansão da capacidade de escoamento de grãos pelos portos amazônicos, atendendo à velocidade exigida pelo mercado. Em 2023, esses portos movimentaram 51 milhões de toneladas de grãos, representando um aumento de 22% em relação ao ano anterior, conforme dados da Amport.