O diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, declarou nesta segunda-feira (5), que a organização não possui qualquer vínculo com o acordo de leniência firmado pelo grupo J&F no âmbito das investigações da Operação Lava Jato. Esse acordo teria levado à cogitação da criação de uma fundação para administrar parte dos recursos provenientes da multa de R$ 10,3 bilhões.
Brandão destacou que a Transparência Internacional foi alvo de investigação pelo ministro Toffoli após determinação deste sobre a apuração da referida fundação. Segundo Toffoli, a organização geriria R$ 2,3 bilhões da multa da J&F em ações não sujeitas à fiscalização pública, uma alegação negada por Brandão.
O diretor afirmou que a organização recebeu a notícia da investigação com surpresa e salientou que não teve participação em nenhuma fase da negociação do acordo com a J&F. Em 2017, a J&F teria buscado a Transparência Internacional para direcionar os recursos do acordo para ações anticorrupção, porém, a ONG recusou, inclusive expressando em documentos públicos essa recusa, que segundo Brandão, não foi mencionada por Toffoli na decisão.
Brandão relatou que sua única interação com o Ministério Público Federal ocorreu em 2014, quando forneceu estudos sobre corrupção. Desde então, diversas empresas envolvidas em investigações procuraram a organização para doações, as quais foram recusadas. Ele enfatizou que cada doação é submetida a uma análise rigorosa com auditoria, e todas as prestações de contas da Transparência Internacional são públicas e disponíveis para consulta.
O diretor rejeitou as acusações, classificando-as como falsas e levianas, e ressaltou que a Transparência Internacional não foi notificada pelo STF em nenhum momento para se pronunciar sobre a suposta ligação com o acordo de delação premiada.
Além disso, Brandão criticou outras decisões do ministro Toffoli, como a suspensão do pagamento das multas impostas pelos acordos de leniência da J&F e da Odebrecht. A ONG também expressou desaprovação em relação às nomeações do presidente Lula para o STF.
Em um artigo publicado no jornal O Globo, Brandão classificou a suspensão da multa da leniência da Odebrecht como o “maior caso de corrupção transnacional da história”. A CGU contestou um relatório da Transparência que apontou uma queda do Brasil no ranking internacional de combate à corrupção.
A Transparência Internacional, em resposta à decisão de Toffoli, esclareceu que as informações sobre a recepção ou gestão de valores recuperados por acordos de leniência são falsas. A organização jamais recebeu ou receberia recursos do acordo de leniência da J&F ou qualquer outro acordo no Brasil. O memorando de entendimento que estabeleceu a cooperação expirou em dezembro de 2019 e não foi renovado, encerrando qualquer participação da organização. Alegações similares foram desmentidas anteriormente pela Transparência Internacional e autoridades brasileiras. A organização denunciou o uso de fake news em campanhas difamatórias contra ela, reiterando seu compromisso na promoção da transparência e integridade no Brasil e no mundo.