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sexta-feira, 22 novembro, 2024
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Lula minimiza ameaças de Maduro e ignora críticas sobre inação frente a crise na Venezuela

Por Marina B.

Na sexta-feira, milicianos encapuzados cercaram a Embaixada da Argentina em Caracas, atualmente sob custódia do Brasil desde que o governo chavista expulsou o corpo diplomático argentino. O prédio abriga seis opositores venezuelanos. No sábado, Nicolás Maduro revogou a autorização do Brasil para manter a embaixada, cortou a eletricidade, que só foi restabelecida no domingo, quando o cerco foi dissipado. Simultaneamente, o candidato da oposição Edmundo González, alvo de uma ordem de prisão emitida pelos juízes fantoches de Maduro, se juntou a quase 8 milhões de venezuelanos refugiados e foi recebido como exilado pela Espanha.

Esses eventos revelam três verdades perturbadoras. Primeiro, a situação na Venezuela vai além de uma simples “fraude” eleitoral; o povo venezuelano, que elegeu González com dois terços dos votos, está sendo vítima de um roubo à mão armada. Segundo, o regime chavista não hesita em violar regras internacionais, acordos com o Brasil e a soberania brasileira sempre que lhe convém. Terceiro, a inação patológica de Lula da Silva frente a essas e outras agressões aos direitos dos venezuelanos e à soberania brasileira.

Líderes da oposição, organizações independentes e governos de vários países – como EUA, Argentina, Paraguai, Uruguai e Costa Rica – condenaram as ameaças de Maduro ao Brasil e aos refugiados venezuelanos. Em contraste, o Itamaraty limitou-se a afirmar, de forma burocrática, a inviolabilidade das instalações argentinas e que manteria a custódia até que Buenos Aires indicasse outro Estado para assumir a função. Não houve qualquer expressão de indignação, apenas uma vaga “surpresa”. O restante foi silêncio.

Na sexta-feira, Lula reiterou, em uma entrevista a uma rádio, sua postura habitual: continua ignorando as atas que o regime afirmou não publicar e que a oposição já divulgou; sua solução é “novas eleições”; o comportamento de Maduro “deixa a desejar”; e seu regime não é uma ditadura, mas “um rolo”. Enquanto Nicolás Maduro promete “banhos de sangue”, rouba eleições, afirma que só entregará o governo a um preposto chavista e persegue opositores, Lula minimiza a situação como um simples regime “desagradável”.

O chavismo sempre utilizou Lula e o PT para se legitimar e financiar, mas Lula e o PT mostram-se incapazes de expressar indignação, seja pelas agressões ao Brasil, seja pela ingratidão do aliado. Desde o governo de Lula, o PT tem demonstrado uma notável falta de reação a agressões externas. Durante seu governo, Evo Morales confiscou refinarias da Petrobras, e os governos petistas financiaram a cleptocracia de Maduro com empréstimos do BNDES, um calote de cerca de R$ 7 bilhões coberto pelo Tesouro brasileiro. Lula voltou ao poder prometendo que Venezuela e outras ditaduras quitariam suas dívidas “porque são todos amigos do Brasil” – ou seja, de Lula.

A generosidade com o dinheiro alheio – no caso, o do contribuinte brasileiro – deveria pelo menos levar Lula a moderar a atitude em relação aos tiranos companheiros. Mas isso não acontece. Na semana passada, a libertação de presos políticos pelo ditador nicaraguense Daniel Ortega foi conseguida pelo governo dos EUA, e não por Lula.

Diz o ditado que em uma mesa de pôquer há sempre um otário; se você não sabe quem é, provavelmente é você. Lula se vê como um grande estadista, um líder global da esquerda e uma voz influente no poder latino-americano. No entanto, os fatos mostram uma realidade bem diferente.

Estadão – Opinião

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