A gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta um momento de crescente desgaste político e econômico. Dados da mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada pela Folha de S. Paulo, revelam que a inflação tem impactado de forma severa a vida da população brasileira, especialmente dos mais pobres, e contribuído para o enfraquecimento da imagem do governo perante a opinião pública.
Segundo o levantamento, 58% dos brasileiros afirmam ter reduzido a quantidade de alimentos adquiridos nos últimos meses em função do aumento dos preços. Entre os mais pobres, esse índice sobe para 67%.
A pesquisa ainda aponta que 8 em cada 10 brasileiros adotaram alguma forma de mudança de hábito para lidar com o cenário inflacionário, como diminuir saídas para refeições fora de casa, trocar marcas de produtos por opções mais baratas e cortar gastos com energia, gás e medicamentos.
Em um contexto de desaceleração econômica e perda de poder de compra, 54% dos entrevistados atribuem ao governo Lula grande responsabilidade pela alta dos preços dos alimentos, enquanto 29% o consideram parcialmente responsável. Apenas 14% isentam completamente a administração federal.
O dado chama ainda mais atenção quando se observa que 72% dos próprios eleitores declarados do presidente reconhecem que sua gestão tem alguma responsabilidade sobre o problema.
Além da inflação de alimentos — que atingiu 1,17% somente em março, puxada por altas expressivas no tomate (22,55%), ovo de galinha (13,13%) e café moído (8,14%) — a pesquisa do Datafolha também detecta um aumento no pessimismo da população quanto ao rumo da economia: 55% dos brasileiros afirmam que a situação econômica do país piorou nos últimos meses, o maior percentual desde o início do atual mandato.
Apesar de medidas pontuais anunciadas pelo governo para tentar conter a inflação, como a isenção de impostos de importação sobre determinados produtos, os efeitos práticos ainda são incertos e limitados.
A falta de planejamento fiscal, a ausência de reformas estruturantes e o elevado nível de gastos públicos são frequentemente apontados por analistas como fatores que comprometem a credibilidade econômica do governo.
O impacto desse cenário se reflete diretamente na popularidade do presidente. De acordo com o Datafolha, apenas 29% da população avaliam positivamente o governo Lula, enquanto 38% o consideram ruim ou péssimo.
A diferença entre aprovação e reprovação aponta para uma tendência de erosão do apoio popular, alimentada por uma sensação de desconexão entre o discurso oficial e a realidade enfrentada por grande parte dos brasileiros.
Em suma, os dados da pesquisa expõem um governo em dificuldades crescentes para responder às demandas mais urgentes da população, sobretudo em relação ao custo de vida.
Com a inflação corroendo o orçamento familiar e a insatisfação social em alta, o desafio do presidente Lula e de sua equipe será recuperar a confiança perdida e apresentar soluções concretas e eficazes — antes que o desgaste aumente mais e se torne irreversível.