Dezenas de parlamentares abandonaram abruptamente o Parlamento britânico nesta quarta-feira (29), em meio a intensos debates e tensões, enquanto os três principais partidos políticos buscavam manobrar uns contra os outros em uma votação crucial sobre um cessar-fogo em Gaza.
A agitação ocorreu após a decisão do presidente da Câmara de permitir uma votação, que ajudou o Partido Trabalhista da oposição a evitar uma rebelião em grande escala dentro de suas próprias fileiras sobre a questão do conflito Israel-Hamas.
Parlamentares conservadores e do Partido Nacional Escocês (SNP), deixaram o plenário em protesto, enquanto alguns tentaram forçar a realização da votação de forma privada, uma medida rara.
O presidente, Lindsay Hoyle, acabou pedindo desculpas e admitindo que sua decisão foi tomada devido a preocupações com a segurança dos parlamentares, que receberam ameaças de violência devido às suas posições sobre a guerra.
“É lamentável e peço desculpas pela decisão”, disse ele ao Parlamento. “Eu não queria que terminasse assim.”
O Partido Trabalhista, que está cotado para vencer as eleições nacionais previstas para o final deste ano, tem enfrentado uma divisão interna sobre sua política em relação ao conflito no Oriente Médio, desde o ataque do Hamas em outubro passado, que levou a uma escalada de violência em Gaza.
O debate no parlamento foi iniciado pelo SNP, que propôs uma moção pedindo um cessar-fogo imediato. Posteriormente, Trabalhistas e Conservadores apresentaram emendas, cada um com suas próprias condições para um cessar-fogo.
Hoyle surpreendeu ao selecionar ambas as emendas para votação, quebrando um precedente que normalmente permite apenas a votação da emenda do governo. Essa decisão foi duramente criticada por alguns parlamentares, que a consideraram uma “crise constitucional”.
A líder do governo na Câmara dos Comuns, Penny Mordaunt, afirmou que Hoyle minou o parlamento e que o governo estava se retirando do processo.
Embora o resultado da votação não tenha peso legal para o governo britânico e seja improvável que seja observado de perto por Israel ou pelo Hamas, representa uma dificuldade para Starmer, líder do Partido Trabalhista, que tenta apresentar sua legenda como unida, disciplinada e pronta para assumir o poder.
Centenas de manifestantes se reuniram do lado de fora do parlamento, exigindo que os parlamentares apoiassem um cessar-fogo enquanto o debate acontecia.
A liderança trabalhista expressou relutância em apoiar a moção do SNP, argumentando que ela não condenava adequadamente a “punição coletiva” do povo palestino e não especificava que o cessar-fogo deveria ser observado tanto por Israel quanto pelo Hamas.
A situação reflete um dilema que Starmer enfrenta, depois de sofrer uma revolta dentro de seu partido em novembro, quando uma moção semelhante apresentada pelo SNP foi rejeitada pelos Trabalhistas.
Enquanto isso, tanto Israel quanto o Hamas continuam ignorando as pressões internacionais para encerrar o conflito em andamento, que já dura cinco meses e causou devastação e uma crise humanitária em Gaza.