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quarta-feira, 6 novembro, 2024
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Boas notícias para a direita na França: Como o Reunião Nacional pode aproveitar um Parlamento dividido

Por Marina B.

A inesperada vitória da Nova Frente Popular nas eleições legislativas francesas resultou de uma estratégia hábil de retirada de candidaturas do campo democrático, visando bloquear a ascensão de candidatos de direita. No entanto, a fragmentação política da Assembleia Nacional, dividida em três grandes blocos sem maioria absoluta, pode criar um ambiente propício para o partido Reunião Nacional, liderado por Marine Le Pen, conforme análise do cientista político Thomás Zicman de Barros, do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po).

Numa reviravolta surpreendente, a Nova Frente Popular conquistou 182 assentos parlamentares, consolidando-se como a maior força política. Em segundo lugar, ficou a coalizão Juntos pela República, que apoia o presidente Emmanuel Macron, com 168 cadeiras, superando a Reunião Nacional, que, apesar de liderar nas pesquisas, ficou em terceiro, com 143 assentos.

A vitória da Nova Frente Popular reflete a eficácia da estratégia de retiradas no segundo turno, onde candidatos do campo democrático abriram mão de suas candidaturas para apoiar adversários com maior potencial de derrotar a direita, explicou o cientista político.

“É a primeira vez desde 1968 que um partido que liderou no primeiro turno não conseguiu vencer no segundo turno. Foi uma grande surpresa”, destacou Thomás de Barros. Após obter cerca de 33% dos votos no primeiro turno, as pesquisas indicavam uma vitória iminente da Reunião Nacional no segundo turno, o que não se concretizou.

“A expectativa de vitória da direita não se concretizou principalmente devido ao êxito da estratégia de retiradas do campo democrático. A esquerda conseguiu se unir, algo que também não era esperado, e apresentou um programa”, observou.

O cientista político explicou que houve um acordo tático entre o centro e a esquerda em muitos distritos, com a retirada de candidatos menos competitivos para apoiar aqueles com maior chance de derrotar os candidatos da Reunião Nacional. “O surpreendente foi que isso não ocorreu apenas no nível dos partidos, mas os eleitores também seguiram essas orientações, optando por votar nos candidatos que consideravam menos prejudiciais para evitar a chegada da direita. Foi uma surpresa”, ressaltou.

Risco de ingovernabilidade

Após a divulgação das primeiras projeções, líderes de esquerda reivindicaram o direito de formar um governo, mas a capacidade de manter a unidade e superar divergências internas será crucial para a Nova Frente Popular.

“O grupo de esquerda possui diversas divisões internas. Há uma ala radical, representada pelo partido A França Insubmissa, de Jean Luc Mélenchon, e outros três grupos moderados – socialistas, ecologistas e comunistas. Apesar de liderarem no país e entre os grupos, será um desafio para essas forças políticas manterem-se unidas. Nos próximos dias, será fundamental ver quem será indicado como primeiro-ministro, pois será necessário garantir apoio suficiente, caso a caso, no parlamento e, especialmente, do bloco centrista. Isso não será fácil”, previu.

Diante da falta de maioria absoluta, a Nova Frente Popular poderá recorrer à governança por meio de decretos, como fizeram vários primeiros-ministros indicados por Macron. “Eles poderão governar por decretos para administrar escolas, custos universitários, detalhes da administração hospitalar, regulamentação de imigração, entre outros aspectos. No entanto, reformas significativas como aumento do salário mínimo, controle de preços, expansão dos serviços públicos e reversão da reforma da previdência exigirão maioria parlamentar, o que eles não têm sozinhos”, observou.

Portanto, há um risco significativo de ingovernabilidade em um governo de esquerda num parlamento tão fragmentado, alertou o cientista político da Sciences Po. “Num governo de maioria de esquerda, sempre existe o risco de uma moção de censura passar se as tensões aumentarem”, afirmou.

Cenário fragmentado pode favorecer a direita

Apesar da expectativa inicial de vitória da direita no segundo turno, o desempenho do Reunião Nacional destacou o avanço significativo da direita no cenário político francês.

De 89 deputados eleitos na eleição anterior de 2022, a legenda aumentou para 143 nesta votação, refletindo um crescimento substancial na Assembleia Nacional. “Apesar de perderem em muitos distritos, eles foram o partido mais votado por estarem presentes em tantos distritos. No segundo turno, demonstraram sua força. Apenas foram barrados devido a uma estratégia tática entre centro e esquerda para evitar sua ascensão ao poder”, analisou.

Contudo, diante da possibilidade de nova dissolução da Assembleia dentro de um ano, o Reunião Nacional pode se beneficiar de um parlamento extremamente fragmentado, o que dificultaria a implementação dos projetos dos partidos de esquerda.

“A direita aposta no longo prazo, numa estratégia de crise e caos. Um parlamento dividido, na verdade, é um cenário favorável. Se houver uma nova dissolução no próximo ano, o Reunião Nacional poderá sair fortalecido ao argumentar que sua derrota anterior foi resultado de um acordo de bastidores entre centro e esquerda. Com um governo mal-sucedido e crescente insatisfação, eles poderão então efetivamente tomar o poder”, concluiu o cientista político.

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