O governo de Nicolás Maduro, que tem perpetuado dificuldades e caos na Venezuela desde 2013, mantém sua tradição de encobrir a realidade com exibições de alegria orquestradas durante as eleições. Após o fechamento das urnas em 28 de julho, Maduro proclamou a vitória em seu terceiro mandato, celebrada com fogos de artifício e multidões dançantes em Caracas, enquanto uma comissão eleitoral sob seu controle anunciava que ele havia conquistado 51% dos votos, em contraste com 44% para o opositor Edmundo González.
Essa alegação é difícil de acreditar. Maduro, amplamente impopular e incompetente, herdou do falecido Hugo Chávez uma “revolução bolivariana” que prometia prosperidade, mas que resultou em uma grave crise econômica. A má administração do setor petrolífero estatal e a corrupção desenfreada empobreceram o país, levando a uma queda drástica do PIB e a uma inflação ainda alta. A emigração em massa dos venezuelanos é um reflexo da sua gestão desastrosa, agravada por sanções americanas.
Agora, além do empobrecimento, os venezuelanos enfrentam a privação de direitos. A eleição anterior, em 2018, já havia sido uma farsa, mas esta última superou em descaramento. O regime impediu líderes opositores, como María Corina Machado, de se candidatarem. Apesar das dificuldades, a oposição se uniu em torno de González, de 74 anos, que foi amplamente apoiado por uma população ansiosa por mudança. No entanto, as pesquisas de opinião e a alta participação nas urnas indicavam uma vitória para González.
Os sinais de fraude começaram a surgir rapidamente. Parentes de Maduro postaram mensagens triunfantes, e o ministro da Defesa fez declarações públicas sobre manter a ordem. Observadores da oposição notaram grandes irregularidades na contagem dos votos, e a divulgação do resultado foi adiada em seis horas, com a autoridade eleitoral culpando “terroristas”. Quando o resultado final foi anunciado, Maduro foi declarado vencedor.
Uma pesquisa de boca de urna da Edison Research mostrou González liderando por 65% a 31%. A oposição alegou que González havia vencido com 70% dos votos, com base em suas próprias contagens. Esses resultados devem ser acessíveis para verificação, mas a oposição conseguiu obter apenas uma parte deles. Uma ONG, temendo represálias, forneceu fotos dos resultados de algumas seções eleitorais, sugerindo que González recebeu 67% dos votos.
Regimes como China, Irã, Rússia e Síria rapidamente parabenizaram Maduro. Em contraste, os Estados Unidos, a União Europeia e a ONU levantaram sérias preocupações e pediram total transparência. O Chile, sob o presidente Gabriel Boric, também exigiu clareza, assim como a Colômbia. O Brasil, influente na Venezuela, pediu detalhes dos resultados, prejudicando a narrativa de Maduro, que esperava apoio de Luiz Inácio Lula da Silva.
O futuro é incerto. Maduro prometeu diálogo, mas também acusou Machado de um ataque cibernético, enquanto ela insiste em “defender a verdade” da eleição. González afirma que não descansará até que a vontade do povo seja respeitada, embora surpreendentemente tenha pedido reconciliação ao invés de protestos em massa, evitando alimentar a narrativa de Maduro sobre a oposição.
A oposição, liderada por González e Machado, pretende expor a fraude eleitoral e conquistar o apoio dos militares, cuja lealdade pode alterar drasticamente a situação. No entanto, as chances de mudança são pequenas, especialmente com a rápida declaração de Maduro como vencedor e presidente para outro mandato. A situação na Venezuela parece desesperadora, com os venezuelanos comuns sofrendo e buscando um futuro melhor fora do país. Uma pesquisa antes da eleição indicou que até um terço da população consideraria migrar se Maduro fosse reeleito, e agora ele afirma isso sem hesitar.
*Com informações, The Economist