A inflação desacelerou em junho, subindo 0,21%, conforme dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira. A queda nos preços das passagens aéreas e de alguns combustíveis ajudou a puxar o índice para baixo, mas o grupo de Alimentos e Bebidas avançou o dobro do IPCA no mês, evitando uma desaceleração maior do indicador.
Em maio, o IPCA foi de 0,46%. O índice de junho ficou abaixo das projeções de mercado. Em 12 meses, a alta de preços foi de 4,23%, acima da expectativa de mercado para o ano.
Os alimentos, que subiram 0,44% em junho, são o grupo mais afetado pela inflação, já que têm o maior peso no IPCA. A alta é reflexo do fenômeno climático El Niño e da valorização do dólar, o que levou analistas a elevarem as expectativas para a inflação dos produtos alimentícios este ano.
Em junho, no entanto, o ritmo de alta dos alimentos — tanto em casa quanto fora de casa — foi menor. A alimentação no domicílio avançou 0,47%, contra 0,66% em maio. Já a alimentação fora de casa variou 0,37%, abaixo dos 0,50% de maio.
Entre as quedas que contribuíram para esse resultado, destacam-se a cenoura e a cebola. No entanto, itens como batata inglesa e leite continuam com preços altos. De acordo com André Almeida, gerente da pesquisa, o leite longa vida teve um impacto individual de 0,6 pontos percentuais (pp).
— Tivemos uma alta de 7,43% no leite, principalmente devido a uma oferta mais limitada causada pela queda na produção. Tanto o período de entressafra no sudeste e centro-oeste quanto o clima adverso na região sul do país foram fatores que levaram à alta do leite em junho — explicou Almeida.
A batata inglesa teve alta de 14,49% e impacto de 0,05 pp, também influenciada por uma menor oferta com o fim da safra das águas e o início da safra das secas.
— O volume da safra das secas ainda não foi tão expressivo, o que resultou em uma menor oferta desse produto — disse o especialista.
Café sobe 12% no ano O café moído, com alta de 3,03% no mês, também ajudou a conter a desaceleração. Com redução na oferta mundial do grão, o item acumula alta de 12,15% em 2024, segundo o IBGE.
O grupo Transportes registrou queda de 0,19% após subir 0,44% em maio, contribuindo para que o IPCA não tivesse uma alta maior. Houve queda na passagem aérea (-9,88%) e de alguns combustíveis como óleo diesel (-0,64%) e GNV (-0,61%).
— Tivemos alguns feriados em maio, principalmente Corpus Christi, que geraram uma alta, elevando a base de comparação e resultando nessas quedas nos preços das passagens em junho — disse Almeida.
Gasolina (0,64%) e etanol (0,34%) registraram alta. A gasolina subiu mais que no mês anterior e deve subir ainda mais em julho, com o primeiro aumento do preço do ano do combustível vendido nas refinarias da Petrobras.
Até agora, a gasolina vinha subindo devido à alta do etanol, que é misturado ao combustível e influencia o valor final nas bombas.
— Não houve reajuste permitido nas refinarias nesse período, são reflexos da dinâmica de mercado. Já a taxa de água e esgoto subiu 1,13% devido a reajustes tarifários aplicados em Brasília, São Paulo e Curitiba — explicou Almeida.
Apesar da desaceleração do IPCA em junho, a alta acumulada em 12 meses indica que os preços continuarão a pressionar o Banco Central, restringindo o ciclo de cortes de juros. A Selic está em 10,5% atualmente e não deve ceder até o fim de 2024, na visão de analistas.
Há preocupações com o mercado de trabalho aquecido, que impulsiona o consumo, e com a inflação em trajetória de alta.