A discordância na última reunião do Copom, que resultou na redução da Selic de 10,75% para 10,5% no início de maio, revela que a forma como o Banco Central se comunica foi a causa primária do desentendimento. Enquanto os quatro diretores indicados por Lula preferiam um corte de meio ponto percentual na Selic, os cinco diretores herdados do governo Bolsonaro optaram por uma redução mais moderada, de 0,25 ponto. Apesar dessa discordância, todos os nove diretores concordaram que o cenário para a inflação se tornou mais desafiador, demandando uma política monetária mais restritiva no futuro.
A divisão no Copom reflete-se no parágrafo 18 da Ata da reunião, onde os diretores indicados por Lula expressaram preocupações sobre o “custo reputacional” de abandonar o “forward guidance” do Banco Central. Eles argumentaram que seguir o guidance é essencial para manter a credibilidade das comunicações formais do Banco. Em contrapartida, os diretores que votaram pela redução de 0,25 ponto enfatizaram que a perda de credibilidade no combate à inflação é um risco muito maior do que não seguir o guidance.
Todos os membros do Copom concordaram que o cenário para a inflação se deteriorou, exigindo uma política monetária mais restritiva e cautelosa. Eles enfatizaram a importância de “ancorar” as expectativas de inflação nas metas estabelecidas. No entanto, persistem divergências em relação à taxa “terminal” da Selic, com alguns diretores sugerindo que a política monetária já está suficientemente restritiva com a redução de 0,25 ponto.
A Ata revela que a divergência no Copom foi mais sobre a forma de comunicação do Banco Central do que sobre a direção da política monetária. Isso sugere uma possibilidade de que a Selic possa cair menos do que o esperado pelo mercado.