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domingo, 5 maio, 2024
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O despertar da direita: Uma nova era na política brasileira

Por Marina B.

Por muitas décadas, no Brasil, ser rotulado como “de direita” carregava um estigma pesado. Poucos aceitavam essa identidade. Ser de direita significava ser visto como antiquado, ultrapassado e até mesmo fora de moda. Em tempos passados, quando a disputa política nacional era entre o PT e o PSDB, os tucanos temiam ser associados à “direita”, envergonhando-se de suas políticas de privatização de estatais deficitárias que, posteriormente, se tornaram lucrativas.

Nas escolas privadas frequentadas pela classe média alta, expressar opiniões consideradas conservadoras muitas vezes resultava em exclusão social, deixando os manifestantes isolados das melhores atividades sociais. Em universidades públicas, debates sobre eleições presidenciais futuras eram conduzidos abertamente, desde que os candidatos fossem de esquerda. Naquela atmosfera, a direita simplesmente não tinha espaço.

Ao mesmo tempo, nos anos 90, Olavo de Carvalho, então menosprezado e autoproclamado filósofo, tentava disseminar uma teoria: grande parte dos brasileiros comuns, longe dos círculos acadêmicos e dos meios de comunicação, eram conservadores por natureza, ou até mesmo reacionários. O problema era que não encontravam opções políticas que refletissem suas crenças. Ele previa que, se essa parcela significativa da sociedade se organizasse para enfrentar o “establishment cultural esquerdista”, assumiria o controle.

Por motivos que ainda precisamos entender melhor, essa profecia se concretizou quase duas décadas depois, com a ascensão de Jair Bolsonaro. O falecido Olavo tornou-se o guru desse movimento, embora tenha abandonado sua faceta mais filosófica para se tornar uma figura estridente e combativa contra a esquerda nas redes sociais.

Após quatro anos de tumulto para muitos, o ex-presidente não foi reeleito e Lula voltou ao poder. Poderíamos pensar que a direita poderia ser relegada ao segundo plano e que as disputas políticas seriam novamente entre a esquerda e o centro-esquerda? Isso talvez nunca mais aconteça.

O fenômeno Bolsonaro, juntamente com o poder das redes sociais, onde cada cidadão tem sua própria plataforma, e o enfraquecimento da mídia tradicional, abriu uma nova era na política brasileira. A direita veio para ficar. É importante notar que muitas das acusações feitas pelos petistas contra Bolsonaro, como “fascista” e “inimigo dos pobres”, já eram direcionadas aos tucanos.

Os números recentes do IPEC confirmam essa tendência que antes era associada apenas aos seguidores de Olavo de Carvalho. De acordo com a pesquisa, hoje o Brasil tem 45% de eleitores mais inclinados à direita (sendo 24% muito convictos), 20% de centro e 21% de esquerda (dos quais 11% muito convictos). Isso significa que, para vencer as eleições, a esquerda precisa conquistar a maioria absoluta do centro, enquanto a direita precisa apenas atrair uma minoria dos eleitores centristas.

Naturalmente, ainda é necessário entender melhor como as pessoas definem termos como esquerda, direita e centro ao responder a pesquisas como essa. Esses conceitos são controversos e carecem de definições mais claras. Em muitos ambientes, ser de direita pode ser visto simplesmente como ser cruel e anti-pobreza. Por outro lado, a direita sugere que a esquerda é incompatível com o cristianismo. Há muita confusão nesse debate entre esquerda e direita.

No entanto, é claro que é dentro desse contexto mais inclinado à direita que o governo petista precisa operar em 2024. Isso também explica a forte reação da sociedade quando o presidente Lula adota posturas mais à esquerda, como ao apoiar o governo venezuelano ou se aproximar dos movimentos de trabalhadores sem-terra. Mas essa atmosfera ideológica também poderia explicar uma tentativa de ajuste em busca de mais popularidade, como vimos na coletiva de imprensa de Lula na última terça-feira (23), quando ele tentou adotar uma postura mais moderada. No entanto, nunca se sabe por quanto tempo, já que isso parece ir contra sua natureza e convicções.

Outra implicação da pesquisa está no Congresso brasileiro. O grupo de parlamentares frequentemente considerado como “o pior de todos os tempos” pode, na verdade, ser um reflexo do Brasil real, representando seus valores e convicções. Isso pode ser desconcertante para aqueles que têm uma visão idealizada do país à esquerda. Causou desconforto quando o ex-ministro José Dirceu, ligado a causas esquerdistas, afirmou que o governo Lula era de centro-direita.

Os números do IPEC mostram que, pelo menos em teoria, ainda há espaço no Brasil para o fortalecimento de um grupo político de centro ideológico, não apenas fisiológico. Atualmente, a polarização brasileira é mais personalista do que ideológica: é uma questão de apoiar Lula ou Bolsonaro e Bolsonaro tem demostrado ao mundo, que o Brasil está com ele.

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