O ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, expressou preocupação de que uma possível expansão fiscal adicional, resultante dos incentivos ao setor industrial, poderia prejudicar o processo de redução das taxas de juros conduzido pelo Banco Central. Kawall, que também é sócio fundador da Oriz Partners, destacou que o mercado ficou surpreso com a magnitude do anúncio, o que gerou uma reação negativa nos ativos brasileiros, em contraste com o comportamento observado no resto do mundo.
O governo divulgou na segunda-feira (22) que a política industrial contará com R$ 300 bilhões em financiamentos provenientes de diversas fontes até 2026. O receio de uma deterioração das contas públicas levou o dólar a se aproximar de R$ 5,00, resultando na queda da bolsa e na pressão sobre os juros futuros na mesma data.
Carlos Kawall argumentou que a expansão do crédito público prejudica a eficácia da política monetária. Ele prevê que o Banco Central reduzirá a taxa Selic para até 9% neste ano, mas reconhece que essa taxa, ao final do ciclo de alívio, será mais alta se a política industrial resultar em uma “expansão expressiva” de subsídios, aumentando assim a taxa de juros neutra da economia.
O ex-secretário alertou que a dimensão do plano levou o mercado a temer que o Brasil repita as políticas dos governos anteriores do PT, quando programas de apoio à economia levaram a uma expansão fiscal. Embora exista a possibilidade de o novo plano ser apenas uma reembalagem de políticas já existentes, o risco não pode ser descartado, e o governo deveria esclarecer o tamanho do impacto fiscal, conforme destacado pelo economista.
Kawall salientou que a ideia de uma política industrial no Brasil traz lembranças negativas ao mercado, sendo fundamental que o governo forneça esclarecimentos para dissipar incertezas.