A recuperação do serviço de transporte rodoviário no Rio de Janeiro desde a pandemia tem sido lenta e enfrenta muitos desafios. De acordo com dados divulgados pela prefeitura, o número de linhas de ônibus em operação na cidade caiu significativamente. Em 2019, existiam 715 linhas, mas atualmente restam apenas 453 em funcionamento, uma redução de 36,64%. Isso significa que cerca de uma em cada três linhas foi desativada. No entanto, houve uma melhora desde a assinatura do acordo judicial em junho de 2022, quando os consórcios que operam os ônibus passaram a receber subsídios municipais por quilômetro rodado. Desde então, o número de rotas ativas aumentou em 71%, e as empresas receberam R$ 1,624 bilhão em subsídios, com valores distribuídos ao longo de 2022, 2023, e parte de 2024.
Apesar do aumento nas linhas em operação, os passageiros ainda enfrentam problemas de qualidade. Nas ruas, reclamações sobre atrasos, superlotação, falta de manutenção e ar-condicionado são comuns. Paula Ventura Quintanilha, uma passageira que depende da linha 847 (Campo Grande – Rio da Prata) para trabalhar, relatou que enfrenta diariamente ônibus em más condições, com cadeiras quebradas e ar-condicionado que não funciona. A demora para o reparo de veículos também é uma queixa frequente entre os usuários, que se sentem inseguros com a possibilidade de quebra dos veículos durante a viagem.
Outro problema é o envelhecimento da frota. Em 2019, a idade média dos ônibus em circulação era de 5,67 anos. Nos anos seguintes, essa média aumentou, chegando a 7,26 anos em 2022, antes de uma ligeira melhora para 6,74 anos em 2023. A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) estabelece que a idade máxima de um veículo para entrar no Sistema de Transporte Público por Ônibus (SPPO) é de seis anos, e todos os veículos devem passar por vistoria e possuir ar-condicionado.
A climatização dos ônibus é uma questão crítica, especialmente com as altas temperaturas que atingem o Rio de Janeiro. Em junho de 2024, cerca de 22% das viagens ainda eram realizadas em ônibus sem ar-condicionado, o que, embora seja uma melhoria em relação a 2019, ainda representa um desconforto significativo para os passageiros. Reclamações sobre o ar-condicionado desligado, mesmo em veículos equipados, são comuns, e a SMTR tem punido empresas com a redução de subsídios em viagens sem climatização.
O impacto da pandemia também se reflete na quantidade de passageiros transportados e no número de viagens realizadas. Em 2019, mais de 1 bilhão de passageiros usaram o transporte rodoviário, mas esse número caiu para cerca de 730 milhões em 2022 e 385 milhões até junho de 2023. A receita do setor também diminuiu drasticamente, com as empresas relatando uma arrecadação total de R$ 1,608 bilhão em 2024, incluindo subsídios, o que é metade do valor apurado antes da pandemia.
Paulo Valente, porta-voz do RioÔnibus, reconhece que o setor ainda está em recuperação e que a situação ainda está longe do ideal desejado pela população.