Segundo dados da OMS apresentados no encontro, o suicídio é a terceira causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil.
A Frente Parlamentar pela Humanização e Atenção dos Atendimentos nos Serviços Públicos em Geral, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), em parceria com o Núcleo de Relações Internacionais do Rio (Nuri-RJ), órgão vinculado à Casa, realizou o encontro “Basta! Pela Vida, Contra a Dor Invisível”. O objetivo foi debater a prevenção ao suicídio e a promoção da saúde mental entre jovens, reunindo especialistas, educadores e representantes de projetos sociais para implantar ações de acolhimento, detecção precoce e políticas públicas voltadas ao cuidado emocional. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentados no encontro, o suicídio é a terceira causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil.
Coordenador da Frente, o deputado Danniel Librelon (REP) afirmou que o evento foi realizado para desestigmatizar o tema e reforçou que a saúde mental deve ser tratada como prioridade. “Precisamos falar sobre saúde mental sem julgamento; o silêncio impede as pessoas de pedirem ajuda. Também precisamos garantir que cada jovem, em qualquer lugar do estado, tenha acesso à escuta, ao atendimento e ao tratamento necessário”, destacou o parlamentar.
Ainda segundo dados da OMS citados na reunião, a taxa de suicídio cresceu 6% nos últimos anos entre os jovens brasileiros. Para Librelon, o índice é alarmante e exige ações efetivas. “Esse debate dentro da Alerj é essencial para tirarmos as ideias do papel e aplicarmos na prática”, afirmou.
Em seguida, a defensora pública Letícia Ribeiro ressaltou a importância de priorizar a proteção de crianças e adolescentes, conforme estabelece o Artigo 227 da Constituição Federal. “A Constituição determina que é responsabilidade do Estado, da sociedade e da família garantir, com absoluta prioridade, os direitos de crianças e adolescentes”, pontuou.
Ela destacou, ainda, a relevância do encontro diante do crescimento expressivo dos casos de suicídio entre jovens. Segundo Letícia, iniciativas como a promovida pela Alerj são fundamentais para orientar políticas públicas voltadas à prevenção. “Quando uma situação como essa chega ao Judiciário, o pior já aconteceu. O mais importante é a prevenção e o cuidado”, observou.
Representante da Superintendência de Projetos Estratégicos da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), o professor Anderson Barros, que atuou 44 anos no magistério, destacou a importância de uma escola mais democrática e participativa. “A escola precisa ser um ambiente que ouve e acolhe seus alunos. Professor não é só quem ensina; é também quem aprende e percebe se os jovens estão em sofrimento”, comentou.
Importância da detecção precoce
A pediatra Cecília Retumba Miranda reforçou a importância de identificar precocemente sinais de transtornos mentais em adolescentes. “Na Sociedade de Pediatria, temos trabalhado para preparar profissionais de saúde e educadores para reconhecer esses sinais. Os professores estão na linha de frente e costumam ser os primeiros a perceber mudanças no comportamento dos jovens”, contou.
Já a psicóloga Sabrina Presman lembrou que a saúde mental já foi um tema cercado de tabu. “Durante muito tempo evitamos falar sobre transtornos mentais com receio de estimular depressão e outras doenças. Isso mudou. Falar com jovens sobre depressão, suicídio e automutilação é falar sobre a vida. Discutimos doenças físicas com naturalidade, mas seguimos evitando tratar das emoções. Por isso, a capacitação e o projeto ‘Basta’ são tão importantes”, disse.
Presente no evento, Júlia Conceição, presidente da 16ª edição do Parlamento Juvenil, aplaudiu a iniciativa. “É fundamental discutir questões que afetam os jovens, como a solidão e a sensação de invisibilidade. Estou certa de que teremos aprendizados significativos”, constatou.
Projeto Help
Foi apresentado no debate o Projeto Help, uma iniciativa que oferece suporte emocional e psicológico a jovens com problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e traumas. O programa funciona com o lema “Não te julgo, te ajudo” e atua através de ações nas ruas, como a distribuição de cartas de motivação, palestras em escolas e comunidades, além de atendimento on-line pelo WhatsApp.
“Eu sofri abuso durante a minha infância e queria dar um jeito de acabar com esse sofrimento. Foi quando procurei ajuda e, através das redes sociais, encontrei o Projeto Help, que salvou a minha vida”, afirmou Dieli Santos, de 23 anos, jovem que integra a iniciativa.