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segunda-feira, 13 outubro, 2025
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Cerca de 55% dos alunos do grupo estado estudam em áreas dominadas por grupos armados

Por Alexandre Gomes

Esse dado do Unicef foi divulgado em audiência pública da Comissão da Alerj de Servidores que debateu o impacto da violência sobre as escolas.

A Comissão de Servidores Públicos, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, se reuniu em audiência pública nesta quinta-feira (25/09), para discutir os impactos da violência nas escolas e buscar estratégias de cuidados para a comunidade escolar. De acordo com dados apresentados na reunião, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 55% dos alunos do Estado estudam em áreas dominadas por grupos armados. Com base na discussão, o colegiado anunciou a criação de um Grupo de Trabalho (GT) que será responsável por elaborar um relatório com análises sobre o tema e propor alterações na legislação, visando a estabelecer diretrizes para enfrentar e coibir o impacto da violência nas escolas.

O Unicef apresentou dados alarmantes que evidenciam a gravidade da violência sobre crianças e adolescentes no âmbito escolar. Segundo a entidade, grupos armados controlam 20% do território do Estado, afetando diretamente a rotina de cerca de 1.800 escolas públicas e mais de 800 mil estudantes. Em 2022, foram registrados 4.400 tiroteios nas proximidades das escolas e essa violência impacta diretamente a aprendizagem: estudantes dessas áreas acumulam até seis meses de atraso escolar em relação aos que estudam em regiões não controladas.

Flávia Antunes, representante do Unicef, alertou ainda que a presença cotidiana da violência anula avanços socioeconômicos e amplia as desigualdades, além de contribuir para taxas mais altas de abandono escolar. “Nenhuma criança ou adolescente deveria viver sob o som de tiros, com medo de ir à escola ou de brincar na rua. A situação é grave, mas não é inevitável. Os números que apresentamos não são só uma denúncia, são um chamado para diálogo baseado em evidências e propostas concretas”, pontuou.

Ela ainda ressaltou que, em maio deste ano, o Comitê de Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU) expressou séria preocupação com a violência sistemática contra crianças no Brasil, especialmente crianças e adolescentes negros, recomendando medidas estruturais e de larga escala para enfrentar a situação.

Garantia de direitos básicos

O deputado Flávio Serafini (PSOL), presidente da Comissão, destacou a importância de debater esses impactos no ambiente escolar e o papel das políticas públicas para garantir direitos básicos à população. “As políticas educacionais e o ambiente escolar são centrais para garantir o direito à educação, à vida e à cidadania das nossas crianças e adolescentes. É fundamental que essas discussões gerem compromissos concretos do poder público, envolvendo não só a educação, mas também saúde, segurança e assistência social, para transformar a realidade desses territórios”, afirmou.

A coordenadora do projeto Estratégias Intersetoriais de Produção do Cuidado em Escolas de Territórios Marcados por Violência, Ingrid D’ávilla, ressaltou a urgência de discutir a escola como espaço de proteção e cuidado, diante do aumento da violência. “Sempre retomamos esse debate quando vivenciamos chacinas e tragédias em escolas, que infelizmente têm sido cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Esse fato reforça a emergência de pensar a escola como lugar de proteção, de promoção da saúde e de cuidado, como deveria ser desde suas origens”, disse.

Para Andréia Martins, técnica em assuntos educacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é necessário reformular a atual política pública de segurança. “Essa violência é resultado de uma política que não tem eficácia e causa danos colaterais significativos. Crianças têm medo de ir à escola, famílias não se sentem seguras para deixá-las, e trabalhadores informais perdem dias de trabalho e renda. Atualmente, a proteção e a rede de apoio disponíveis ainda são insuficientes para atender a estudantes e profissionais das escolas mais afetadas pela violência”, afirmou, citando exemplos como o Projeto Rainar, na Maré, e o Programa Saúde na Escola (PSE), que buscam contornar a situação, mas enfrentam limitações estruturais para gerar resultados efetivos.

Também estiveram presentes na audiência a defensora pública Maria Júlia Miranda; a pesquisadora do Centro de Estudos de Violência e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Mayalu Matos; e a representante do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ), Ivanete Silva.

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