Nos recônditos do Norte de Moçambique, uma sombria narrativa de violência desenrola-se, urdida por grupos extremistas islâmicos, desencadeando uma dolorosa crise humanitária. Nesse turbilhão, milhares de indivíduos, entre eles cristãos, são compelidos a se tornarem deslocados internos na região. Maria, sob o véu de um pseudônimo salvaguardador de sua identidade, é uma dentre essas infortunadas. Aos seus escassos 20 anos, em desabalada fuga, carrega consigo sua filha de dois anos, escapando dos horrores que assolaram sua terra natal, Mocímboa da Praia, há quatro anos atrás. O recente embate lhe ceifou o pai e o tio, vitimados em um atroz ataque perpetrado em Chai, no distrito de Macomia. “Abrigávamo-nos na residência do irmão mais novo de meu pai, em Chai”, narra Maria. Porém, quando os radicais assaltaram a urbe em fevereiro, a chama consumidora da violência devorou o lar familiar, compelindo Maria a fugir com sua preciosa cria. No tumulto da escapada, o contato com seu pai e tio se perdeu, apenas para mais tarde descobrir o derradeiro destino que os acometeu: enlaçados e ceifados pela fúria dos opressores.
A barbárie que assola a província de Cabo Delgado se avolumou desde fevereiro, quando as forças do Estado Islâmico arremeteram contra as defesas, ceifando vidas militares e desencadeando a diáspora de milhares. Escolas cerraram suas portas, condenando a educação de dezenas de milhares de inocentes, enquanto relatos de sequestros, decapitações e a fúria destrutiva alastram-se sem freios. Conforme relata Portas Abertas, o recrudescimento da violência deflagrou uma crise de deslocamento interno, com mais de 70 mil almas exiladas de seus lares, dentre as quais 35.500 crianças e 14.500 mulheres. O grupo extremista Ahlu-Sunnah wal Jama’ah, afiliado ao Estado Islâmico desde 2019, figura como o arauto principal desses nefastos ataques.
O cenário humanitário em Moçambique é dantesco, com mais de 650 mil desterrados e pelo menos dois milhões clamando por socorro imediato. Diante desta cruel realidade, uma fervorosa campanha de preces pelo Domingo da Igreja Perseguida em 2024 foi deflagrada, com vistas a amparar os cristãos desalojados em Moçambique.