Dom Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, esclareceu aspectos do “Pequeno Léxico do Fim da Vida”, um glossário de 88 páginas publicado pela Livraria Editora Vaticana (LEV). Este documento aborda questões delicadas e éticas sobre o fim da vida, como eutanásia, suicídio assistido, cuidados paliativos e cremação.
Lançado no início de julho, o opúsculo ganhou destaque recentemente devido a interpretações de que a Santa Sé estaria se abrindo para novas posições. Dom Paglia esclareceu que as orientações apresentadas são consistentes com os últimos setenta anos de ensinamentos papais e eclesiásticos. Ele entregou uma cópia do glossário ao Papa Francisco, que o recebeu em audiência no Palácio Apostólico.
Vatican News: Dom Paglia, você se encontrou com o Papa Francisco e entregou o “Pequeno Léxico do Fim da Vida”. O que o Papa, que sempre defendeu a vida em todas as suas fases, comentou sobre o documento?
Dom Paglia: O Papa Francisco expressou seu apreço pelo trabalho da Pontifícia Academia para a Vida. Ele reconheceu que o tema do fim da vida é complexo e que a Igreja possui um rico Magistério sobre o assunto, desde Pio XII em 1957 até os dias atuais. A defesa da vida deve ser constante, não restrita a momentos específicos, e deve proteger especialmente os mais vulneráveis, combatendo a “cultura do descarte” que surge da pretensão de autossuficiência e autonomia.
Vatican News: Há alegações de que o vademecum representa uma abertura da Santa Sé para a suspensão de nutrição e hidratação. Isso é correto?
Dom Paglia: Em 1956, Pio XII já afirmou a possibilidade legal de suspender a ventilação em certas condições graves, conforme o Léxico. Em 2007, a Congregação para a Doutrina da Fé reconheceu que a suspensão de tratamentos pode ser permitida se causar “excessiva gravidade ou relevante desconforto físico”. Esses critérios definem tratamentos não proporcionais, que podem ser suspensos. É essencial ler o Léxico na íntegra para compreender completamente esses aspectos.
Vatican News: Houve alguma mudança em relação à eutanásia e ao suicídio assistido? Alguns jornais sugerem que a rejeição da obstinação terapêutica pode estar disfarçando um julgamento favorável sobre esses temas.
Dom Paglia: A Igreja mantém sua oposição absoluta à eutanásia e ao suicídio assistido, e essa é minha convicção pessoal. A Igreja também nos desafia a considerar se a obstinação terapêutica representa uma medicina verdadeiramente a favor do paciente. Embora a morte seja inevitável, devemos cuidar uns dos outros com mais dedicação e oferecer suporte significativo nos momentos finais da vida, sabendo que para nós, crentes, a morte não é o fim.
Vatican News: O Léxico menciona “mediações em nível legislativo”. Quais seriam aceitáveis?
Dom Paglia: Não existem “mediações aceitáveis” a priori. Nas questões sensíveis do fim da vida, é desejável alcançar o maior consenso possível, respeitando diferentes sensibilidades e crenças religiosas. A política deve promover esse consenso e a Igreja pode colaborar, focando no bem comum e na formação das consciências, mais do que na elaboração de leis.