“Ninguém pode invocar o nome de Deus para promover desprezo, ódio e violência contra os outros.” Com essas palavras, o Papa Francisco reafirmou sua posição na quarta-feira durante uma reunião no Vaticano com membros da Associação da Comunidade Afegã na Itália, antes da Audiência Geral.
A associação é composta por homens e mulheres afegãos que residem na Itália, dedicados a apoiar a integração de refugiados afegãos na sociedade italiana e a promover o diálogo e o respeito pelos direitos humanos de todas as comunidades étnicas.
O Papa iniciou seu discurso lembrando os trágicos eventos que assolaram o Afeganistão nas últimas décadas, caracterizados por instabilidade, guerra, divisões internas e a violação sistemática dos direitos humanos, que forçaram muitos ao exílio. Ele expressou seu pesar pelo fato de que a diversidade étnica da sociedade afegã, em vez de ser uma fonte de riqueza, é “às vezes usada como justificativa para discriminação e exclusão, se não perseguição total.”
Francisco também abordou a situação crítica nas fronteiras com o Paquistão, onde muitos afegãos se refugiaram, e onde a minoria étnica pashtun, majoritária no Afeganistão, também enfrenta abuso e discriminação.
Neste cenário desafiador, o Papa destacou que a religião deveria ser um meio para atenuar as diferenças e criar um espaço de direitos plenos para todos, sem discriminação. Em vez disso, ele observou que a religião muitas vezes é manipulada como um instrumento de ódio e violência.
Ele encorajou os membros da rede afegã a continuar seu “nobre esforço para promover a harmonia religiosa” e a trabalhar para superar mal-entendidos entre diferentes religiões, construindo caminhos de diálogo e paz.
O Papa lembrou do Documento sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Convivência em Comunidade, assinado em Abu Dhabi em 4 de fevereiro de 2019 com o Grande Imã de Al-Azhar. O documento declarou que “as religiões nunca devem incitar guerra, ódio, hostilidade ou extremismo, nem promover violência ou derramamento de sangue”, afirmando que tais ações são “resultado de uma distorção dos ensinamentos religiosos” e “decorrentes de manipulação política das religiões.”
Francisco destacou que seu apelo também se aplica às diferenças étnico-linguísticas e culturais, que podem coexistir pacificamente através da adoção de uma “cultura de diálogo como caminho; cooperação mútua como código de conduta; e compreensão recíproca como método e padrão.”
Ele expressou sua “fervorosa esperança” de que esses padrões se tornem uma herança comum e influenciem o pensamento e o comportamento das pessoas, observando que, se aplicados no Paquistão, também beneficiarão a comunidade pashtun. Francisco ilustrou sua visão de verdadeira fraternidade com exemplos de convivência pacífica em países africanos, onde muçulmanos e cristãos celebram juntos suas festividades, destacando que essa é a verdadeira fraternidade e uma prática admirável.