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sábado, 21 setembro, 2024
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Cardeal Cantalamessa denuncia ataques à fé: ‘Guerra contra a luz do mundo’

Por Marina B.

O pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa, proferiu sua segunda pregação para a Quaresma na sexta-feira, dia 1º. Na Sala Paulo VI, ele continuou a reflexão sobre as autorrevelações de Jesus e abordou a passagem em que o Senhor declara: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12).

O cardeal começou destacando a distinção entre a verdade histórica e a verdade real diante das afirmações de Jesus que estão sendo consideradas. Ele enfatizou que não é a simples pronúncia de frases como “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) por parte de Cristo que as torna verdadeiras, mas sim a realidade que transcende qualquer contingência histórica: Jesus é verdadeiramente o caminho, a verdade e a vida.

“Portanto, as grandes palavras que estamos meditando são de Jesus: não do Jesus histórico, mas do Jesus que, como havia prometido aos discípulos (cf. Jo 16,12-15), nos fala com a autoridade do Ressuscitado, pelo seu Espírito”, expressou Cantalamessa.

“Eu sou a luz do mundo”

Em seguida, ele se concentrou na passagem do Evangelho escolhida para esta segunda pregação. O pregador da Casa Pontifícia explicou que Jesus estava no templo de Jerusalém, debatendo com os judeus, quando proclamou: “Eu sou a luz do mundo”.

Hoje em dia, ele observou, esta afirmação “tornou-se uma verdade aceita e proclamada, mas houve um tempo em que não era apenas isso; era uma experiência vivida”. Ele citou Pedro, que descreve o encontro com Jesus como uma passagem “das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pd 2,9).

Em seguida, ele apontou dois significados para a expressão “luz do mundo”. O primeiro está relacionado com a “suprema e definitiva revelação de Deus à humanidade”. Jesus não apenas traz a luz do mundo, mas é Ele próprio essa luz; ele diz “Eu sou a luz do mundo”, não “Eu trago a luz do mundo”.

O segundo significado sugere que Jesus é a luz do mundo porque ilumina o mundo, ou seja, “revela o mundo a si mesmo, fazendo com que cada coisa seja vista em sua verdade, diante de Deus”.

Fé e razão

Neste contexto, a luz que é Cristo muitas vezes encontra resistência da razão humana, desafiando o homem a permanecer firme na fé. Cantalamessa mencionou uma “assimetria radical”, observando que “o crente compartilha a razão com o incrédulo, mas o incrédulo não compartilha a fé do crente na revelação”.

Por isso, ele disse, “o debate mais convincente sobre o tema ‘fé e razão’ é aquele que ocorre dentro de cada pessoa, entre sua fé e sua razão”. Ao mencionar alguns exemplos de pensadores que se dedicaram a essa reflexão, como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Blaise Pascal, São João Paulo II e Bento XVI, o cardeal indicou que a conclusão a que todos chegaram é que “o ato supremo da razão é reconhecer que há algo que a transcende”. “A fé não se opõe à razão, mas a pressupõe, assim como ‘a graça pressupõe a natureza’”, completou.

O pregador da Casa Pontifícia ressaltou que o homem moderno valoriza a busca pela verdade acima da própria verdade. Isso acontece, explicou, porque durante a busca, o homem está no controle, enquanto que ao encontrar a Verdade, reconhecida como tal, não há mais discussão a ser feita e ele deve se render “à obediência da fé”. “A fé coloca o absoluto, enquanto a razão prefere continuar indefinidamente o debate”, afirmou.

Apoiando-se no poder do Espírito

Neste contexto, ele indicou que “o discurso sobre fé e razão, antes de ser um debate entre ‘nós e eles’, entre crentes e não crentes, deve ser um debate ‘entre nós e nós mesmos’, isto é, entre os próprios crentes”. Ele citou Paulo, que em sua primeira carta aos coríntios escreveu: “A minha pregação e a minha mensagem não se basearam em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em prova do Espírito e de poder, para que a fé de vocês não se apoiasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1Cor 2,4-5).

Cantalamessa alertou que a teologia ocidental “cada vez mais se afastou do poder do Espírito, para favorecer a sabedoria humana”. Ele sugeriu que o racionalismo moderno espera que o cristianismo apresente sua mensagem de forma dialética, sujeitando-a à investigação e ao debate.

“O perigo inerente a essa forma de fazer teologia é que Deus se torna objetificado. Ele se torna um objeto sobre o qual se fala, não um sujeito com quem – ou na presença de quem – se fala”, disse o cardeal. Ele chamou isso de “contragolpe” de tornar a teologia uma ciência, observando que ela se torna mais um diálogo com a elite acadêmica do momento e menos um sustento para a fé do povo de Deus.

Contra a mundanização

Retomando o segundo significado mencionado para a expressão “Eu sou a luz do mundo”, o pregador da Casa Pontifícia enfatizou que Jesus não ilumina a si mesmo, mas todas as coisas na terra. Portanto, ele enfatizou que não se pode permitir que o mundo se torne o sujeito que ilumina a vida humana, invertendo o seu papel.

“Um ditado atribuído a Jesus em um antigo texto não canônico diz: ‘Se não jejuardes do mundo, não descobrireis o reino de Deus’. Este é o jejum mais necessário hoje: jejuar do mundo”, exortou o pregador, enfatizando que o egoísmo é o princípio que governa o mundo.

Além disso, ele apontou que a principal causa da mundanização é a crise de fé, “o terreno primordial de confronto entre o cristão e o mundo”, já que “pela fé o cristão não é mais ‘do’ mundo”. Nesse sentido, Cantalamessa indicou que a opinião pública desempenha um papel crucial nesse processo, colocando a fé em questão e levando o indivíduo a se adaptar ao “espírito do tempo”.

“Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo”

O cardeal também alertou para a “trindade do mundo”, composta por prazer, poder e dinheiro, e desafiou os presentes a refletirem se, mesmo condenando os estragos causados por esse trio na sociedade, todos estão verdadeiramente imunes a esses perigos.

Por fim, ele indicou que a maior consolação para aqueles que lutam com o mundo, dentro e fora de si mesmos, é saber que Cristo continua a rezar ao Pai pelos homens, como ressuscitado: “Eu não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo… Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo… Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, por meio da palavra deles, hão de crer em mim” (Jo 17,15-20).

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