A exploração sexual infantil continua a ser uma grave preocupação no Brasil em 2024. Apesar dos esforços contínuos para aprimorar a proteção e o apoio às vítimas, os números mostram que o problema persiste com intensidade alarmante.
Dados do Disque 100, serviço de denúncia da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, revelam um aumento de cerca de 8% nas denúncias de abuso sexual infantil nos primeiros seis meses de 2024, comparado ao mesmo período de 2023. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que diariamente 320 crianças são vítimas de abuso sexual no Brasil, embora esse número possa ser maior, já que apenas sete em cada 100 casos são denunciados.
A Fundação Abrinq aponta que aproximadamente 70% dos abusos ocorrem dentro da própria casa da vítima, cometidos por familiares ou pessoas de confiança da família. Esses dados reforçam a complexidade do problema e a necessidade de uma resposta eficaz e contínua por parte das autoridades, sociedade civil e organizações não governamentais.
As redes sociais e a internet têm um papel duplo nesse cenário. Embora sejam ferramentas valiosas para denúncias e educação, também facilitam novos meios para a exploração sexual. Em 2024, a pastora e cantora Cristina Mel alertou para o crescente uso dessas plataformas para fins ilícitos e destacou a urgência de reforçar as medidas de segurança e monitoramento online.
Diversas igrejas no Brasil têm atuado ativamente no combate ao abuso sexual infantil, promovendo campanhas de conscientização, treinamentos e apoio direto às vítimas e suas famílias. Em setembro de 2023, Cristina Mel participou da pré-estreia do filme “Som da Liberdade”, que aborda o tráfico sexual de crianças, e enfatizou o papel fundamental da igreja na proteção infantil.
“A igreja sempre teve o papel de proteger e orientar. Precisamos abordar temas como exploração, desconstrução da inocência e sexualização precoce das crianças. Os pais devem estar mais vigilantes, pois as redes sociais podem ser armadilhas perigosas. Muitas crianças acabam conversando com adultos que se passam por outras crianças, mas que, na verdade, são pedófilos”, advertiu Cristina Mel.
Os índices de abuso sexual infantil variam significativamente entre os estados, refletindo diferenças regionais. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco figuram entre os estados com os maiores índices de abuso sexual infantil. Na Bahia, entre janeiro e a primeira quinzena de maio de 2024, foram registrados 1.557 casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, o que corresponde a 11 denúncias diárias.
No Rio de Janeiro, o cenário também é preocupante. Em 2023, foram registradas 8.836 denúncias de abuso sexual, das quais 3.540 envolviam crianças de até 13 anos, representando 40% do total. O maior índice de violência sexual contra crianças ocorre entre os 11 e 13 anos de idade.
O impacto do abuso sexual é devastador e duradouro para as vítimas. Jeanete Lima, educadora e coordenadora do projeto adventista “Quebrando o Silêncio”, que visa combater e conscientizar sobre diversas formas de violência, destacou que as vítimas de abuso sexual frequentemente carregam traumas ao longo da vida, manifestando-se em instabilidade emocional, comportamentos compulsivos, depressão, transtornos de personalidade e até ideação suicida.
“Jesus disse: ‘Deixem que as crianças venham a mim e ai daquele que faça tropeçar meus pequeninos’. O abuso é uma forma brutal de impedir que as crianças cheguem até Jesus, pois gera insegurança, vazio e dúvida quanto ao amor verdadeiro, limitando o desenvolvimento saudável de uma criança”, explicou Jeanete.
Para combater a exploração sexual infantil, é essencial que a sociedade conheça formas seguras e eficazes de denunciar abusos:
- Disque 100 (Direitos Humanos): Serviço que recebe denúncias de violações de direitos humanos, incluindo abuso e violência contra crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência e outros grupos vulneráveis. As denúncias podem ser feitas anonimamente, 24 horas por dia.
- Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher): Serviço especializado em violência contra a mulher, que oferece orientações e encaminhamentos para a rede de serviços especializados.
- Delegacias Especializadas: Em várias cidades do Brasil, existem delegacias especializadas, como as Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAMs), Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e Delegacias de Proteção ao Idoso.
- Conselho Tutelar: Os Conselhos Tutelares são responsáveis pela proteção dos direitos das crianças e adolescentes e devem ser contatados em casos de suspeita ou confirmação de abuso ou exploração contra menores.
A luta contra o abuso sexual infantil exige um esforço contínuo e coletivo, envolvendo todos os setores da sociedade, para garantir que as crianças sejam protegidas e possam crescer em um ambiente seguro e saudável.