Durante sua primeira visita de Estado ao Chile sob a presidência de Gabriel Boric, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encontrou-se com seu colega chileno nesta segunda-feira (5). A visita gerou grande expectativa devido às diferenças políticas entre os líderes de esquerda na América Latina. Pelo menos 17 acordos bilaterais estão previstos para assinatura, e embora não haja discussões oficiais sobre o impasse político na Venezuela, o tema foi abordado em reuniões privadas entre Lula e Boric.
As posições sobre a Venezuela são divergentes: Boric imediatamente condenou as alegações de fraude na eleição presidencial venezuelana de 28 de julho, que resultou na recondução do ditador Nicolás Maduro ao poder. Lula, por sua vez, tem adotado uma postura neutra, aguardando desdobramentos diplomáticos, mas já manifestou apoio a Maduro, alegando que não houve “nada de anormal” no pleito.
O Brasil tem se alinhado aos governos de esquerda da Colômbia, liderado por Gustavo Petro, e do México, sob Andrés Manuel López Obrador, mantendo uma postura de não condenar o resultado das eleições para evitar isolar ainda mais a Venezuela.
Posição de Lula e Reações no Chile
Em sua visita a Paris, Janja, a primeira-dama, teve custos significativos, e a reação à sua presença nas Olimpíadas contrasta com as posições adotadas no Chile. Após uma conversa privada com Boric, Lula declarou à imprensa que “o respeito pela tolerância e pela soberania popular é o que nos move a defender a transparência dos resultados”, e que “o compromisso com a paz nos leva a promover o diálogo entre governo e oposição”.
Maduro foi proclamado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) no dia seguinte às eleições, mas o resultado continua sendo contestado por governos e organismos internacionais. O governo brasileiro afirma que só se posicionará quando todas as informações eleitorais forem divulgadas, o que ainda não ocorreu.
Na última terça-feira (30), Lula comentou o assunto, dizendo que não havia “nada grave” no processo eleitoral venezuelano, desconsiderando as evidências de fraude e a escalada de violência na Venezuela.
Brasil, México e Colômbia, governados por presidentes de esquerda, emitiram uma nota na quinta-feira (1º), elogiada por Maduro, pedindo à CNE a publicação rápida das atas eleitorais e mencionando “controvérsias sobre o processo eleitoral”. O Chile, por sua vez, manteve a posição de não reconhecer a vitória de Maduro até que ela seja “verificável”.
Diferenças Políticas e Impactos
Lula, 78 anos, e Boric, 38 anos, apresentam diferenças que vão além da idade, refletindo as divergências em suas posturas sobre a Venezuela. Enquanto Boric criticou prontamente o resultado das eleições venezuelanas e expeliu o corpo diplomático chileno, Lula manteve um silêncio cauteloso antes de uma declaração moderada que foi criticada.
A visita de Lula a Santiago, que se encerrará nesta terça-feira (6), pode tentar demonstrar alguma convergência entre os líderes. Analistas destacam a postura vigorosa e autêntica de Boric, em contraste com a cautela de Lula, adquirida por sua longa experiência no poder e proximidade com o regime chavista.
Pressões Internas e Externas
A pressão sobre Lula é intensa, principalmente após suas declarações sobre a normalidade do processo eleitoral venezuelano. Ex-chefes de Estado da Espanha e América Latina pediram que Lula assegure o compromisso com a democracia e a liberdade na Venezuela.
A posição de Lula e do PT sobre a crise venezuelana está afetando sua política interna. O Brasil, enquanto busca diversificar sua pauta comercial com o Chile, está em uma posição arriscada como mediador da crise venezuelana. A postura de Lula pode ter impactos significativos na polarização interna e nas relações exteriores do país.