O discurso progressista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em defesa da educação contrasta com a grave crise financeira que atinge as universidades federais brasileiras. A restrição orçamentária imposta pelo governo federal tem forçado instituições a adotarem cortes que comprometem não apenas a infraestrutura, mas também a qualidade do ensino e da pesquisa.
A situação é alarmante em universidades como a UFRJ, Ufal e UFRGS, que já suspenderam gastos com combustível, viagens, reposição de equipamentos e obras de manutenção. O risco de não haver recursos para pagar funcionários terceirizados de segurança e limpeza nos próximos meses é cada vez mais real.
A crise se agravou com a alteração no modelo de repasse dos recursos: antes mensal, agora concentrado em três parcelas — maio, novembro e dezembro —, sob o argumento oficial de “revisão do ritmo de execução das despesas”. Embora o Ministério do Planejamento negue bloqueio, dados do Painel do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento indicam uma redução de cerca de R$ 218 milhões no orçamento discricionário das universidades e institutos federais para 2025.
A reitoria da UFRJ, por exemplo, comunicou à comunidade acadêmica que foi obrigada a adotar “medidas emergenciais para garantir a sustentabilidade financeira da instituição”. Na UFRGS, há negociações para manter o funcionamento do restaurante universitário, e cresce a preocupação com a permanência dos alunos cotistas, dependentes de bolsas para se manterem matriculados.
Em nota conjunta, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) afirmaram que a nova forma de repasse ameaça “a sobrevivência das universidades federais e o futuro do País”. Embora o tom seja alarmista, a falta de financiamento compromete a capacidade das universidades de oferecer ensino e pesquisa qualificados.
Parte da responsabilidade pelo atual quadro é atribuída à política de expansão universitária dos governos do PT, que multiplicaram câmpus sem garantir a infraestrutura e os recursos necessários para seu funcionamento. A promessa de Lula de promover uma expansão universitária de excelência ficou apenas no discurso, enquanto outras áreas, como o ensino técnico-profissional, foram negligenciadas.
A crise revela a incoerência entre a retórica do governo, que exalta a educação pública, e a prática administrativa, que estrangula financeiramente as universidades. A falta de recursos ameaça aulas, interrompe pesquisas, prejudica a manutenção de estudantes de baixa renda e fragiliza a reputação institucional das universidades federais. Sem coerência orçamentária, o discurso progressista se esvazia diante da realidade.