Ministro usou jatinho de empresário; presença de defensor de investigado acende alerta sobre “lobby judicial”
Dias antes de decretar sigilo máximo no processo que investiga fraudes no Banco Master, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), viajou para Lima, no Peru, acompanhado de figuras diretamente ligadas à instituição financeira. A informação foi revelada por O Globo.
Toffoli assistiu à final da Libertadores — em que o Palmeiras perdeu para o Flamengo por 1 a 0 — no jatinho privado do empresário Luiz Oswaldo Pastore, também palmeirense. No mesmo voo estavam:
- Augusto Arruda Botelho, ex-secretário nacional de Justiça do governo Lula;
- Aldo Rebelo, ex-deputado federal.
Arruda Botelho não estava apenas como torcedor. Ele é advogado de Luiz Antonio Bull, diretor de compliance do Banco Master e um dos presos na operação da Polícia Federal que levou o banqueiro Daniel Vorcaro à cadeia.
Dias depois da viagem, Toffoli atendeu a um pedido apresentado pelo próprio Botelho e impôs sigilo total ao processo.
A decisão viabilizou a posterior soltura de Vorcaro, Bull e outros executivos.
Transparência Internacional fala em “pandemia de lobby judicial”
A viagem provocou forte reação da Transparência Internacional – Brasil, que classificou como “extremamente grave” o avanço do lobby judicial no país, atribuindo ao STF a maior responsabilidade pelo fenômeno.
Segundo a entidade:
“Ministros têm recorrido a favores escusos, desmoralizando a Justiça e minando a confiança pública na Corte encarregada de guardar a Constituição.”
A organização também cobrou que o recém-criado Observatório da Transparência e Integridade do Judiciário, anunciado pelo CNJ, concentre esforços justamente nos “exemplos nefastos que vêm de cima”.
Sigilo absoluto: processo fica invisível até para consulta básica
A decisão de Toffoli elevou o nível de sigilo de uma ação que já tramitava sob segredo de Justiça. Agora, não é possível visualizar:
- iniciais das partes,
- nomes dos advogados,
- petições,
- movimentações,
- decisões,
- ou qualquer dado processual.
O acesso é restrito ao gabinete de Toffoli, às partes e ao Ministério Público quando notificado.
A defesa de Vorcaro argumenta que a Justiça Federal de Brasília não teria competência para conduzir o caso e pede que o próprio STF assuma integralmente o processo, citando a apreensão de um suposto contrato imobiliário envolvendo o deputado João Carlos Bacelar (PL-BA).
Relações paralelas ampliam questionamentos
Outro ponto citado por críticos é o fato de que Roberta Maria Rangel, esposa de Toffoli, integrou o escritório Warde Advogados — cujo titular, Walfrido Warde, atua hoje na defesa de Daniel Vorcaro.
A coincidência, somada à viagem com o advogado de um dos investigados e ao sigilo decretado logo depois, alimentou críticas sobre conflitos de interesse e opacidade no tratamento do caso.