Após uma semana repleta de notícias desfavoráveis ao governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta o desafio de avaliar os danos, os riscos iminentes e as possíveis estratégias para otimizar sua atuação nas eleições municipais de outubro.
Contrariando suas expectativas, surgiram fatos que aumentaram o clima de pessimismo em torno da gestão petista e forneceram munição aos seus opositores. Questões como as preocupações expressas pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, sobre as finanças públicas, bem como a denúncia de agressão à ex-mulher contra o filho mais novo de Lula, e o voto do relator no julgamento de Sergio Moro na Justiça Eleitoral, contrário à cassação do senador, dominaram as manchetes nos últimos dias. Além disso, especulações sobre uma possível troca no comando da Petrobras também agitaram os bastidores.
No entanto, o aspecto mais preocupante para Lula, amplamente divulgado pela imprensa, diz respeito à denúncia envolvendo o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), durante seu mandato como governador da Bahia, relacionada a desvios na compra de respiradores durante o ápice da pandemia de Covid-19. O ressurgimento desse escândalo pode intensificar-se no contexto da batalha eleitoral e alimentar divergências internas.
O governo encontra-se dividido em dois polos: um liderado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que busca o ajuste fiscal, e outro composto por Rui Costa e líderes petistas que buscam expandir os gastos por motivos eleitorais. Na tentativa de aplacar as tensões, o presidente buscou expressar elogios a Costa durante um evento em Pernambuco, chamando-o de “primeiro-ministro” e interlocutor do governo com os governadores.
A deterioração dos indicadores fiscais, aliada à queda na popularidade de Lula nas pesquisas de opinião, cria um cenário desafiador para o governo, dificultando as relações com o Congresso e aumentando a incidência de crises, muitas das quais originadas por dissensões internas.
Com apenas três meses para negociar a aprovação de projetos de sua agenda legislativa devido às restrições do calendário eleitoral, o governo enfrenta uma corrida contra o tempo. O recente escândalo envolvendo o ministro da Casa Civil, que desempenha um papel fundamental no ministério, é um revés indesejado para o presidente.
A denúncia envolvendo Rui Costa, revelada pela revista Veja, agravou ainda mais a situação. A empresária Cristiana Prestes Tadeo, da empresa Hempcare, citou Costa em sua delação premiada no âmbito da investigação da Polícia Federal sobre fraude na compra de respiradores em 2020. O ministro nega qualquer envolvimento, mas o assunto é extremamente delicado para o Planalto, especialmente diante das revelações sobre os adiantamentos de pagamentos à Hempcare sem a entrega dos respiradores.
A tensão entre Costa e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e as críticas sobre seu estilo “autoritário” complicam ainda mais a situação. Apesar da desmobilização do Congresso, a oposição certamente aproveitará a oportunidade para explorar o caso.
A crise de reputação que se segue pode prejudicar os planos do PT, aumentando a percepção de instabilidade e incompetência do governo. Os desdobramentos desses eventos serão cruciais para o futuro do governo Lula e seu desempenho nas próximas eleições.