Em 2021, durante a pandemia, o Partido dos Trabalhadores (PT) criticava abertamente o então presidente Jair Bolsonaro (PL) pela alta do dólar, argumentando que a desvalorização da moeda brasileira era resultado de uma gestão econômica desastrosa. No entanto, em 2024, o governo Lula (PT) parece ter adotado uma abordagem diferente, colocando o mercado financeiro e o Banco Central como responsáveis pela escalada do dólar, que atingiu R$ 6,06 nesta segunda-feira (2), estabelecendo um novo recorde.
Divergência no discurso
Na época de Bolsonaro, o PT atribuía a alta do dólar à falta de confiança no governo. Em um vídeo amplamente divulgado, o partido explicava que a valorização da moeda americana encarecia o diesel, aumentava os custos do transporte e, consequentemente, os preços dos alimentos. Agora, no governo Lula, o discurso mudou: sem a pandemia como justificativa, o PT culpa o “mercado especulativo” e os supostos “erros” do Banco Central, enquanto desvia o foco da política econômica adotada pelo próprio Executivo.
Impacto do pacote de cortes
A recente desvalorização do real foi agravada após o anúncio de um pacote de cortes de gastos do governo federal, apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na semana passada. O mercado financeiro reagiu mal à falta de clareza nas medidas, interpretadas como insuficientes para enfrentar o desequilíbrio fiscal.
Entre as promessas de Haddad estavam a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e a taxação de “super-ricos”, mas as propostas careciam de detalhamento sobre como seriam executadas sem pressionar ainda mais o orçamento público. A percepção de falta de compromisso com o ajuste fiscal aumentou a aversão ao risco por parte de investidores, contribuindo para a disparada do dólar e a queda do Ibovespa, que recuou 0,34% nesta segunda-feira.
Críticas à gestão econômica
Especialistas e analistas do mercado têm apontado que a desvalorização da moeda brasileira reflete, em grande parte, a falta de confiança na condução da política econômica do atual governo. O aumento de gastos públicos, combinado com sinais de incerteza sobre as reformas estruturais, tem gerado um cenário de instabilidade que afasta investidores e pressiona o câmbio.
Além disso, a postura do PT em culpar o Banco Central e o mercado financeiro contrasta com a retórica adotada contra o governo anterior. O que antes era visto como “descaso e incompetência” por parte do Executivo, agora é justificado como “fatores externos e conjunturais”.
A alta do dólar e a instabilidade econômica expõem as contradições no discurso do PT, que, ao assumir o governo, enfrenta dificuldades em responder às pressões do mercado e aos desafios fiscais do país. A narrativa de responsabilizar terceiros pela situação atual levanta dúvidas sobre a disposição do governo Lula em promover reformas consistentes e retomar a confiança necessária para estabilizar a economia brasileira.