Desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a primeira-dama, Rosângela “Janja” da Silva, tem se envolvido em uma série de polêmicas que, mais do que constrangimento, começam a afetar a imagem e a agenda do presidente e de seu governo, aponta a Gazeta do Povo.
Inicialmente vista como alguém à margem dos holofotes, Janja, com seu comportamento excêntrico e excessiva exposição, acabou se tornando uma figura central em discussões que ultrapassam os limites de seu papel institucional. Sua recente fala, em que xingou publicamente o bilionário Elon Musk, representou o ápice de sua trajetória de controvérsias, gerando repercussões internacionais e acirrando a oposição.
O episódio ocorreu durante o painel do G20 Social no Rio de Janeiro, onde Janja, ao ser interrompida por uma buzina, ironizou Musk e o xingou de maneira explícita. A reação do empresário foi imediata, com uma postagem debochada no X (antigo Twitter), e a repercussão nas redes sociais foi vasta, sendo acompanhada de críticas tanto da oposição quanto de analistas políticos. O insulto a Musk não apenas manchou a imagem do governo na esfera internacional, como também levantou questões sobre a falta de controle sobre os excessos de uma figura que, apesar de não ter mandato popular, age com ares de autoridade.
Em meio às críticas, o governo enfrenta outro escândalo envolvendo Janja: os gastos com o “Festival de Cultura Aliança Global contra Fome e a Pobreza”, apelidado de “Janjapalooza”, que custaram R$ 33 milhões aos cofres públicos. O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu investigação sobre a legalidade desses gastos, especialmente em um momento de crise fiscal no país. Deputados da oposição questionaram as despesas com artistas e eventos culturais, enquanto outros, como o deputado Marcel Van Hattem, pediram explicações sobre os impactos diplomáticos da atitude de Janja. O ex-presidente Jair Bolsonaro e outros líderes da oposição classificaram o incidente como mais um “deslize diplomático” do governo Lula, que comprometeria as relações internacionais, especialmente com os Estados Unidos, dado o antagonismo de Musk às propostas de regulação de redes sociais e tributação de super-ricos defendidas por Lula e Janja.
A postura de Janja, em vez de ser uma representação sóbria e diplomática do governo, tem gerado desconforto dentro do próprio PT e entre aliados de Lula. O especialista Marcus Deois apontou que, ao agir de forma excessivamente informal e polêmica, Janja tem desrespeitado a discrição que se espera de sua posição, e seu comportamento tem gerado ciúmes e desconforto entre outros líderes do governo. Para Deois, Janja precisa entender que sua atuação não pode ser pautada pelo protagonismo pessoal, mas sim pela construção de pontes e pelo reforço da imagem institucional do governo. No caso de suas recentes falas, a diplomacia deveria ter sido a resposta, não a polêmica.
Em meio às críticas, Janja não se retratou com Musk e, ao contrário, reforçou sua demanda por mais poder e estrutura dentro do governo, sugerindo até a criação de um gabinete próprio para a primeira-dama. A tentativa de ampliar sua influência dentro do Planalto e a insistência em se colocar como figura central geram ainda mais insatisfação, tanto entre opositores quanto dentro do próprio círculo de poder. Com isso, suas ambições de se projetar internacionalmente parecem cada vez mais distantes, enquanto o governo de Lula, que já enfrenta desafios econômicos e políticos, vê sua imagem prejudicada por atitudes impensadas de sua esposa.