O fracasso de público no evento de 1º de Maio teve repercussões no Palácio do Planalto. De acordo com fontes internas, daqui para frente haverá um critério mais rigoroso para a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em eventos. Assessores reconhecem que a imagem política do líder petista foi prejudicada ao ser fotografado ao lado de uma plateia escassa e lamentam que ele não tenha sido aconselhado a evitar a presença na celebração do Dia do Trabalhador.
Segundo essa avaliação interna, o alerta deveria ter partido do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, o que não aconteceu. Por essa razão, Lula expressou sua insatisfação publicamente, especialmente porque as críticas dos sindicalistas já haviam sido transmitidas ao Planalto, inclusive em declarações públicas.
“Eu disse que Lula passaria por uma situação constrangedora. O fracasso da manifestação evidenciou o declínio do sindicalismo, que se distanciou do povo, assim como o governo”, comentou o deputado Paulinho da Força, uma figura histórica da Força Sindical, à Coluna do Estadão.
Para o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Juruna, a imagem do evento esvaziado é “excelente”. “Isso expõe a realidade e força o movimento a repensar suas estratégias”, provocou. Sua afirmação sugere que o sindicalismo precisa de uma reformulação e de novas lideranças. “O movimento sindical precisa ser inclusivo, mas enfrenta dificuldades porque os extremistas pensam que se resume apenas a discurso ideológico”, avaliou.
Juruna defende ações mais atrativas. “Precisamos engajar todos os trabalhadores, não apenas os de esquerda. No passado, realizávamos sorteios, diversos eventos. É como na igreja: há festas, danças, uma aproximação. Às vezes, as pessoas comparecem sem serem militantes, mas se identificam e se integram.”
Pelo menos em uma análise, tanto sindicalistas quanto auxiliares de Lula concordam, após o fracasso da quarta-feira: o presidente ainda enxerga os trabalhadores como os via na década de 1980, ou seja, está desconectado das novas demandas da classe.
O evento de 1º de Maio com Lula em São Paulo atraiu menos de 2 mil pessoas, segundo monitoramento da Universidade de São Paulo (USP). O Monitor do Debate Político da universidade também calculou a presença de apoiadores nas manifestações convocadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, e na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.