A deterioração das contas públicas no Brasil tem gerado uma crescente fuga de investidores, o que reflete diretamente na perda de confiança em ativos brasileiros. Com a inflação longe da meta de 3%, o aumento contínuo da dívida pública e a possibilidade de elevação da taxa Selic, o ambiente econômico tem se mostrado cada vez mais volátil. O resultado é um impacto severo nos preços dos ativos, com destaque para as ações, que têm enfrentado grandes oscilações.
Rafael Siqueira, sócio da L2 Capital Partners, observa que o cenário atual é de “maior aversão ao risco”, evidenciado pelo comportamento errático do Ibovespa, que chegou ao seu ponto mais baixo em junho deste ano e, apesar de um breve recorde histórico em agosto, voltou a cair em outubro. A instabilidade no mercado de ações reflete a falta de confiança dos investidores, que têm migrado para a renda fixa, mais segura e atraente em meio à crise.
A fuga de capitais, evidenciada pela saída de US$ 52,4 bilhões pela conta financeira nos primeiros nove meses de 2024, mostra o quão prejudicada está a percepção externa sobre o Brasil. Essa retirada maciça de dólares tem colocado 2024 como um dos piores anos para o país em termos de atração de investimentos, comparável a 2020, ano marcado pela pandemia global.
Nesse contexto de incerteza, gestoras renomadas como a Verde Asset e a XP Asset Management têm adotado estratégias mais conservadoras, priorizando papéis de renda fixa atrelados à inflação e desinvestindo em ações brasileiras. Luís Stuhlberger, da Verde Asset, praticamente zerou sua exposição à bolsa brasileira, citando a combinação de incertezas fiscais e aumento de juros como principais fatores de risco.
A XP Asset Management também compartilha dessa visão mais pessimista, destacando que a elevação dos juros será necessária para conter a inflação, mas terá um impacto negativo sobre os ativos de risco, como ações. O cenário fiscal, descrito como desafiador, é um entrave para a confiança no mercado e para o crescimento econômico.
Entretanto, apesar desse quadro alarmante, Eduardo Grüber, sócio da AMW (Warren Investimentos), ressalta que o Brasil ainda tem grande potencial a ser explorado. Ele aponta que o mercado brasileiro, apesar dos problemas fiscais, continua sendo atrativo por sua dimensão e pelas oportunidades que oferece. “Há poucos países com o tamanho e o mercado financeiro que o Brasil possui”, diz Grüber, destacando que melhorias econômicas locais podem reverter parte da atual fuga de capitais.
Além disso, o gestor observa que, embora o Brasil enfrente dificuldades, muitos de seus concorrentes na captação de investimentos também estão lidando com seus próprios desafios. Países como México, Rússia e Turquia passam por crises institucionais ou econômicas, o que, segundo Grüber, coloca o Brasil em uma posição relativamente favorável no longo prazo, caso consiga equilibrar suas contas públicas e restaurar a confiança dos investidores.
A AMW, com uma visão mais pragmática, tem adotado uma postura que visa aproveitar as oportunidades, mesmo em um cenário desafiador, mostrando que o mercado brasileiro ainda pode ser uma boa aposta para investidores dispostos a se arriscar em um ambiente de alta volatilidade.