Operação revela indústria clandestina de armas em São Paulo e Minas Gerais que produzia até 3,5 mil fuzis por ano para o crime organizado
A Polícia Federal desmantelou fábricas clandestinas de fuzis em Santa Bárbara d’Oeste (SP) e Belo Horizonte (MG) que abasteciam o Comando Vermelho (CV). A produção utilizava máquinas industriais de alta precisão, como tornos e fresadoras, capazes de fabricar milhares de armas por ano.
Na operação, a PF apreendeu cerca de 150 fuzis prontos e 30 mil peças usadas na montagem. Estima-se que o grupo pudesse produzir 3,5 mil armas anuais, movimentando milhões em equipamentos e peças.
Logística e principais envolvidos
Os criminosos transportavam os armamentos de São Paulo para o Rio de Janeiro, principalmente para o Complexo do Alemão e outras áreas dominadas por facções. Rafael Xavier do Nascimento, responsável pelo transporte, foi preso com 13 fuzis na Via Dutra. Outro integrante, Anderson Custódio Gomes, foi detido com peças suficientes para montar 80 fuzis.
O esquema usava o CNPJ de uma empresa de peças aeronáuticas, registrada em nome de Gabriel Carvalho Belchior, foragido e incluído na lista vermelha da Interpol. Ele importava fuzis desmontados dos Estados Unidos, escondidos em caixas de produtos diversos.
A PF identificou Silas Diniz Carvalho como o principal receptor das armas no Rio. Preso em 2023 com 47 fuzis, ele mantinha uma segunda fábrica em Minas Gerais, junto da esposa, Marcely Ávila Machado.
“Parecia uma fábrica normal, mas no interior havia toda a operação ilícita”, afirmou o delegado Samuel Escobar.
Conexão com o crime organizado
As armas abasteciam facções do Alemão, Rocinha e Maré, além de grupos criminosos na Bahia e no Ceará. A PF calcula que ao menos mil fuzis tenham sido entregues a organizações criminosas apenas no último ano.
A investigação se relaciona à Operação Contenção, que já resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais — entre eles o chefe da 53ª DP de Mesquita, Marcus Vinícius.
No total, foram apreendidas 118 armas, sendo 91 fuzis, 26 pistolas e 14 artefatos explosivos, além de munições e drogas. Muitos dos fuzis apreendidos são idênticos aos fabricados nas fábricas clandestinas de Santa Bárbara d’Oeste.