Documentos oficiais obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) confirmam que Carla Ariane Trindade, ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esteve no Ministério da Educação (MEC) em 12 de julho de 2024 para uma reunião com o ministro Camilo Santana (PT-CE).
A visita, registrada na portaria do órgão, não constou na agenda pública de Santana. No campo destinado ao cargo da visitante, aparece a indicação “Presidente Lula”, embora Carla não exerça qualquer função no governo federal.
Na data do encontro, Camilo Santana retornou de Fortaleza pela manhã, participou de um evento no Hospital Universitário de Brasília e ficou livre a partir das 11h, horário compatível com a reunião registrada.
A confirmação da visita ocorre após a Polícia Federal deflagrar, na quarta-feira (12), uma operação que teve Carla entre os investigados por suposta participação em um esquema de desvio de recursos da educação em municípios do interior paulista.
PF apura lobby no MEC e suspeita de influência política
Segundo as investigações, Carla Ariane faria parte de um grupo de cinco pessoas apontado por atuar em lobby para liberação de verbas do MEC. Parte desses recursos teria como destino a empresa Life Tecnologia Educacional, fornecedora de equipamentos para redes municipais, sob suspeita de superfaturamento.
Na decisão que autorizou a operação, a juíza Raquel Coelho Dal Rio Silveira, da 1ª Vara Federal de Campinas, descreve Carla e o lobista Kalil Bittar como figuras “com alegada influência no governo federal”.
Kalil foi sócio de Luís Cláudio Lula da Silva, filho caçula do presidente. Já Carla foi casada por 20 anos com Marcos Cláudio Lula da Silva, filho mais velho de Lula.
A PF aponta que o empresário André Mariano, dono da Life, teria financiado duas viagens de Carla a Brasília para intermediação de interesses privados. Para os investigadores, ela participou de articulações “na busca por recursos e contratos”, embora ainda não haja evidências documentadas sobre vantagens indevidas recebidas.
Investigações apontam articulação entre empresários, agentes públicos e lobistas
O inquérito indica que o esquema começou em 2021 e era estruturado em três núcleos:
- Life Tecnologia Educacional, responsável pela oferta de produtos superfaturados;
- Agentes públicos municipais, que direcionavam processos de compra;
- Doleiros e operadores financeiros, encarregados dos repasses ilícitos.
A estratégia envolvia a criação artificial de demandas nas prefeituras, manipulação de licitações e pagamento de propina para assegurar contratos. Em um dos casos, livros que custavam R$ 5 eram vendidos às prefeituras por R$ 80, um preço até 35 vezes acima do mercado.
Entre os agentes públicos investigados estão Cafu César e Fernando Gomes de Moraes, apontados como responsáveis por garantir atas de registro de preços e acelerar pagamentos à empresa.
A PF afirma que o esquema teria sido ampliado após as eleições de 2022, com Mariano tentando expandir sua influência em cidades administradas pelo PT e intensificando suas articulações através de Carla Ariane.