O ex-diretor executivo da Conab, Thiago Santos, foi o responsável pelo leilão fracassado do arroz estatal durante o governo Lula, resultando em mudanças na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nesta terça-feira, 25, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, anunciou a exoneração de Thiago José dos Santos, responsável pela elaboração do leilão mal sucedido.
Até o momento, o conselho de administração da Conab não nomeou um substituto definitivo para o cargo de diretor-executivo de Operações e Abastecimento, responsável pela gestão dos leilões da companhia. Esses leilões são cruciais para a regulação dos preços e a garantia do abastecimento nacional.
“O governo já resolveu isso [a exoneração do diretor]. O próprio conselho hoje vai encaminhar”, afirmou o ministro. Thiago dos Santos é especialista em gestão pública e funcionário de carreira na esfera municipal de Mato Grosso, tendo sido assessor na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural na Câmara dos Deputados e coordenador na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, foi exonerado na quarta-feira, 12, após indícios de irregularidades no leilão de arroz. A decisão já havia sido anunciada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, um dia antes. No entanto, Geller negou ter pedido demissão, contradizendo o ministro.
Geller afirmou ao jornal O Globo que não havia pedido demissão e que não havia motivos para suspeitas sobre sua conduta. Ele explicou que seu filho estabeleceu parceria com a corretora antes de assumir o cargo de secretário de Política Agrícola, que a empresa não está em operação, não participou do leilão e não realizou nenhuma transação.
Carlos Fávaro esclareceu que mencionou que Geller havia colocado o cargo à disposição como uma forma de ser “gentil”. Pessoas próximas ao secretário afirmam que ele foi pego de surpresa com a exoneração e solicitou que o motivo fosse corrigido para não constar que foi a pedido. Geller se sentiu injustiçado e afirmou que apoiava o primeiro leilão, cancelado, cuja meta era importar 100 mil toneladas de arroz, menos do que as 230 mil toneladas efetivamente compradas.
Geller também defendeu a participação de um ex-assessor seu na disputa, pois ele já não trabalhava mais para ele há cerca de quatro anos, quando decidiu abrir a corretora.
Milton Fornazieri deixou, no último dia 10, o cargo de secretário de Abastecimento, Cooperativismo e Soberania Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. Fornazieri, ex-coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi substituído por Ana Terra Reis, pesquisadora que estuda o MST e a reforma agrária em São Paulo.
Uma nota da Conab, sem informações técnicas e atualizadas sobre o estoque de arroz, é o único documento a justificar a compra de quase 300 mil toneladas do grão pelo governo. O primeiro leilão, realizado no início do mês, foi anulado por suspeitas de irregularidades. A nota técnica foi assinada por Silvio Porto, diretor-executivo da Diretoria de Política Agrícola e Informações (Dipai) da Conab.
A justificativa baseia-se em dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), mostrando aumento no preço do arroz entre 25 de abril e 28 de maio, afetando diretamente a população de baixa renda. Outros dados utilizados incluem o aumento de preço apurado pelo Procon do DF.
Sobre o leilão, marcado para ocorrer um dia após a emissão da nota técnica, a pasta limitou-se a dizer que a compra “é fundamental para contribuir para a normalidade no abastecimento interno de arroz”. A nota não indica quantos dos estoques foram afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que concentra 70% da produção de arroz no país. Dados de danos aos estoques nunca foram apresentados publicamente, e especialistas indicam que a estatal pode estar trabalhando com números defasados.
A nota foi assinada em 6 de junho, quase duas semanas após o governo decidir pela compra via Medida Provisória. Uma fonte afirma que essa troca de ordem na emissão da nota seria suficiente para abrir um processo administrativo.
O objetivo da compra, segundo o governo, seria repor o arroz perdido pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Produtores gaúchos indicam que o risco de desabastecimento é pequeno, e ex-presidentes da Conab cobraram dados técnicos atualizados que justifiquem o investimento de 1,3 bilhão em arroz. Comprado a cerca de 5 reais o quilo, o governo venderá a 4 reais o quilo, de forma subsidiada. A estratégia de uso da Conab pelo governo do PT, intervindo no mercado com o aumento da oferta, foi defendida por Edegar Pretto, atual presidente da Conab e ligado ao MST gaúcho.