A fatura dos gastos do governo Lula chegou, e a primeira parcela veio com o aumento de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic. O Banco Central, responsável por essa decisão, indicou que essa alta é o começo de um ciclo, ou seja, novas elevações estão por vir.
O Comitê de Política Monetária (Copom) apresentou justificativas para esse aumento, que contraria a tendência observada nos Estados Unidos e em outras partes do mundo. De forma resumida, as razões incluem:
- A economia e o mercado de trabalho estão mais aquecidos do que o esperado;
- A inflação está ligeiramente acima da meta de 3% ao ano, próxima ao limite de 4,5%;
- As previsões para a inflação deste e dos próximos dois anos estão “desancoradas”, ou seja, acima do objetivo.
Como o Banco Central tem a obrigação de controlar a inflação, ele usou sua principal ferramenta: elevou os juros, com o objetivo de desacelerar a economia e, assim, conter as pressões inflacionárias.
E qual o papel de Lula nisso?
Grande parte da piora das expectativas está relacionada à situação fiscal do governo, resultado direto da política econômica adotada, que tem como base o aumento expressivo dos gastos públicos e da arrecadação de impostos.
Essa combinação afeta tanto os “preços de ativos” (como o dólar, que subiu mais no Brasil do que em outros países) quanto as expectativas dos “agentes econômicos” (famílias, empresas, investidores, bancos, etc.).
Como as medidas de arrecadação não são suficientes para equilibrar as contas públicas, o governo busca alternativas, como burlar regras, cogitar novos aumentos de impostos, tentar se apropriar de recursos “esquecidos” de terceiros, e até reaver valores que deve a pessoas e empresas. Além disso, quando surgem imprevistos, o governo precisa gastar ainda mais.
Para piorar, o presidente minimiza o rápido aumento da dívida do país, afirmando que há prioridades mais importantes.
Tudo isso contribui para piorar ainda mais as expectativas econômicas. Quando as finanças públicas se deterioram, a população sabe quem arca com os custos.
O Banco Central elevou os juros para frear uma economia impulsionada pelos gastos do governo. Porém, as decisões de Lula não impactaram apenas as contas públicas e a percepção sobre elas.
As escolhas do presidente também contribuíram para um crescimento econômico maior do que o previsto. O problema é que esse crescimento foi superior ao potencial do país.
Quando o Copom menciona que o “hiato do produto” entrou no “campo positivo”, significa que a economia está operando acima de sua capacidade, com demanda maior do que a oferta, pressionando os preços para cima.
Aumento real do salário mínimo (o que impacta contribuições, pensões e benefícios), ampliação de programas sociais como o Bolsa Família, e o pagamento antecipado de precatórios são exemplos de medidas que desequilibram as contas públicas, forçando o governo a tomar empréstimos para cobrir despesas correntes, o que injeta bilhões de reais na economia e impulsiona o consumo.
Consequentemente, o consumo tem sido o principal motor do crescimento do PIB, enquanto o investimento produtivo continua abaixo do ideal. Apesar de ter subido recentemente, ele ainda apresenta queda de 0,9% em 12 meses, enquanto os gastos do governo subiram 2,4% e o consumo das famílias, 3,7%.
Sem investimentos adequados em infraestrutura, máquinas e equipamentos, a capacidade produtiva do país se esgota. Se a economia cresce mais rápido do que a produtividade, os preços inevitavelmente sobem. A renda inicial ganha pela população começa, então, a ser corroída pela inflação.
Esse cenário é previsível, e por isso o Banco Central aumentou os juros.
PT culpa “bolsonaristas” pela alta dos juros, mas “lulistas” votaram a favor
O PT reagiu como esperado, acusando o Banco Central de sabotar a economia e alegando que é liderado por um “bolsonarista”. No entanto, o partido omitiu o fato de que todos os outros oito membros do Copom, incluindo quatro indicados por Lula, votaram pela alta dos juros. Entre esses indicados, está o escolhido para presidir o Banco Central a partir de 2025. Também ignoraram que o mesmo “bolsonarista” estava à frente do BC quando a taxa de juros subiu para 13,75% ao ano, pouco antes das eleições de 2022.
O PT e parte da esquerda, obcecados pelo crescimento a qualquer custo e tolerantes com a inflação, parecem esquecer que o descontrole dos preços prejudica os trabalhadores que eles afirmam defender.
Um exemplo recente: entre 2021 e 2022, após a pandemia, a inflação ficou acima de 8% por quase um ano e meio, superando 10% em muitos momentos. O resultado foi que a maioria das negociações salariais desse período teve reajustes abaixo da inflação, fazendo com que os trabalhadores perdessem poder de compra, mesmo com o PIB crescendo quase 5% em um ano e 3% no outro.