Invasão coloca em risco projetos científicos de alcance global e escancara novamente a conivência do governo com atos ilegais do movimento
Mais de 300 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram, nesta semana, a Estação de Zootecnia do Extremo Sul da Bahia, localizada em Itabela, às margens da BR-101. O centro, vinculado à Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), é referência em pesquisas internacionais sobre mudanças climáticas, e a ocupação já resulta em danos materiais, paralisação de atividades científicas e risco à integridade de dados e equipamentos.
Centro de excelência comprometido por ação política
A estação é mantida com parcerias de universidades do Brasil, Estados Unidos e Canadá, e concentra estudos sobre mitigação de gases do efeito estufa, sequestro de carbono no solo e manejo sustentável de pastagens. Pesquisadores e servidores denunciaram que os militantes do MST:
- Cortaram cercas da propriedade pública;
- Fizeram ligações elétricas irregulares, provocando curtos-circuitos;
- Impediram o acesso de técnicos e pesquisadores, paralisando parte das pesquisas em andamento.
Segundo funcionários da Ceplac, os danos podem causar perda de dados científicos e equipamentos sensíveis, além de comprometer linhas de pesquisa fundamentais para políticas ambientais de longo prazo.
Movimento alega “pressão por negociação”
Em nota oficial, o MST afirma que a ocupação tem caráter “pacífico” e visa pressionar pela retomada de um acordo estagnado com órgãos federais, que trataria da destinação de áreas “sem função social” para reforma agrária. O grupo exige a retomada das conversas com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Incra, Secretaria do Patrimônio da União e a própria Ceplac.
O local, no entanto, já havia sido alvo de invasões em 2022 e 2024, o que reforça a reincidência do movimento em interromper e comprometer estruturas públicas essenciais, mesmo diante de acordos anteriores não cumpridos.
Silêncio do governo e prejuízo à ciência brasileira
O episódio reacende um alerta: o governo federal não só silencia diante de ações ilegais como se mostra leniente com movimentos aliados politicamente, mesmo quando eles causam prejuízos diretos ao patrimônio público e à credibilidade do país no cenário internacional.
Pesquisadores e servidores relatam que nenhuma autoridade se manifestou publicamente até agora para condenar os atos ou oferecer proteção à estação científica. O dano à imagem do Brasil como parceiro de projetos ambientais globais também é citado como consequência grave e duradoura.
A nova invasão ocorre justamente na mesma semana em que o presidente Lula recebeu o MST no Palácio do Planalto, durante a chamada “Semana Camponesa”, quando o movimento promoveu ocupações em 22 capitais. O gesto foi interpretado por muitos analistas como sinal verde para novas ocupações, ainda que ilegais ou destrutivas.
Parlamentares e líderes da oposição classificaram o episódio como um ataque direto à ciência, à ordem pública e ao princípio da legalidade, acusando o governo de Lula de passividade deliberada e uso político de instituições públicas para atender pressões ideológicas.