O governo Lula enfrenta mais um impasse interno: o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), comandado por Carlos Fávaro, declarou oficialmente que a meta ambiental de zerar o desmatamento ilegal em todos os biomas até 2030 é irreal e fora da realidade brasileira. A informação foi revelada nesta semana pela Folha de S.Paulo.
A crítica consta em um parecer técnico interno enviado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), liderado por Marina Silva, no contexto da formulação do Plano Setorial de Uso e Cobertura da Terra em Áreas Públicas, que tem entre seus objetivos o ordenamento fundiário e a redução das emissões de gases do efeito estufa.
“Entendemos que o aceite da desejável ação ‘eliminar o desmatamento ilegal em áreas públicas de todos os biomas brasileiros’ está fora da realidade e da razoabilidade, sendo de forma prática impossível de ser cumprida”, afirmou o Mapa.
Agricultura quer sair da responsabilidade
Diante do cenário, o Ministério da Agricultura sugeriu ser retirado das responsabilidades referentes ao cumprimento dessa meta ambiental. O documento afirma ainda que não há, no Mapa, qualquer Plano Nacional de Rastreabilidade oficialmente em vigor, contrariando informações divulgadas pelo MMA.
Segundo a pasta, o único projeto ativo trata da identificação individual de bovinos e búfalos, sem ligação com rastreabilidade de desmatamento.
Meta ambiental: promessa ambiciosa de Lula
O compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 foi anunciado por Lula ainda durante a campanha e reafirmado em fóruns internacionais, como a COP. A meta foi endossada por 19 ministérios e considerada “prioridade” do governo.
No entanto, a declaração da Agricultura escancara a falta de alinhamento técnico e político dentro do próprio Executivo — um sinal de que o plano sofre resistência inclusive entre aliados do presidente.
Reação do Meio Ambiente
O Ministério do Meio Ambiente rebateu a crítica e reafirmou que o plano segue como diretriz oficial do governo federal. Segundo a nota, a meta envolve múltiplas ações, como recuperação de vegetação nativa, regularização fundiária e ordenamento territorial. O MMA também ressaltou que a implementação do plano requer o esforço conjunto de União, estados, municípios, setor privado e sociedade civil.
Marina Silva minimiza atritos
Apesar da oposição aberta de setores do governo e da base aliada no Congresso, a ministra Marina Silva afirmou recentemente que não vê isolamento e que a agenda ambiental segue avançando. Ainda assim, projetos ligados ao seu ministério enfrentam resistência no Legislativo, inclusive por partidos que compõem a base de Lula.
Dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam queda de 45,7% no desmatamento da Amazônia até julho de 2024, em comparação com 2022. No Cerrado, a redução foi de 23,5%. Ainda assim, técnicos do MMA reconhecem que a eliminação completa do desmatamento ilegal exige um salto estrutural no controle ambiental e na fiscalização.
Mais um revés para Lula em meio a desgaste político
A crítica vinda de dentro do próprio governo expõe fragilidades na articulação interna do presidente Lula, que tenta apresentar uma imagem “verde” ao mundo, mas esbarra na realidade do campo, da agropecuária e da política nacional.
Além disso, o episódio reforça a desconfiança de que muitas promessas ambientais feitas pelo atual governo são mais retóricas do que viáveis, colocando em xeque a coerência entre o discurso internacional e a prática administrativa.