O jornalista Merval Pereira contestou as tentativas do Supremo Tribunal Federal (STF) de minimizar a polêmica envolvendo o ministro Alexandre de Moraes. Em análise na GloboNews, ele destacou que a grande manifestação da Corte em defesa de Moraes revela a profundidade da crise. Para Pereira, “se não houvesse margem para discussão, não haveria necessidade de posicionamentos tão enfáticos”.
As declarações de Pereira ocorreram após a jornalista Andréia Sadi observar que há algum tempo não se via o STF se defendendo de maneira tão vigorosa.
Pereira comentou:
– O que o Supremo fez foi uma defesa contundente do tribunal. Não parece ter sido uma reação improvisada; é evidente que houve discussões prévias. A última vez que vi uma defesa tão intensa foi em relação à decisão monocrática aprovada no Senado no final do ano passado – apontou.
Ele continuou:
– O tamanho da manifestação do Supremo sugere a gravidade da crise. Já na véspera, o ministro Alexandre de Moraes havia emitido uma nota explicativa. Se não houvesse espaço para debate, não haveria necessidade de uma manifestação tão vigorosa de tantos membros da Corte.
Pereira também criticou a tentativa do STF de classificar a reportagem da Folha de S.Paulo como fake news.
– Há um erro factual por parte do ministro Alexandre de Moraes e do presidente do STF, Barroso. A Folha não divulgou uma notícia falsa; apenas relatou fatos e os interpretou com base em consultoria jurídica. Tratar a reportagem como fake news é incorreto – afirmou.
O jornalista ainda observou que os assessores de Moraes demonstravam receio de que suas ações fossem descobertas, o que sugere a consciência de irregularidades.
– Se os assessores do ministro expressaram temor de serem descobertos e discutiram estratégias para disfarçar suas ações, é evidente que havia algo errado – destacou.
ENTENDA
Uma reportagem da Folha de S.Paulo, divulgada nesta terça-feira (13), revelou que, durante a presidência de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o gabinete do ministro no STF teria utilizado informalmente a estrutura do TSE para produzir relatórios sobre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo a reportagem, esses documentos foram usados para fundamentar decisões de Moraes no inquérito das fake news do STF. Entre os nomes citados estão o juiz Airton Vieira, assessor de Moraes, e Eduardo Tagliaferro, perito criminal responsável pela Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE.
O jornal relatou que não há confirmação oficial de que os relatórios foram requisitados diretamente por Moraes ou seu gabinete. Algumas solicitações foram feitas por juízes auxiliares do TSE ou surgiram como denúncias anônimas. O juiz Airton Vieira chegou a sugerir uma estratégia para evitar que a utilização do TSE para fundamentar investigações contra aliados de Bolsonaro fosse tão evidente, como indicado em um áudio vazado.
Em resposta ao vazamento, vários parlamentares da oposição começaram a se mobilizar para apresentar um novo pedido de impeachment contra o ministro.