Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro usou perfil oculto nas redes sociais, contradisse delação e criticou Moraes em mensagens privadas
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, teria violado as regras estabelecidas no acordo de colaboração premiada firmado com a Justiça e desrespeitado determinações do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A denúncia foi publicada pela revista Veja, que afirma ter tido acesso a mensagens trocadas por Cid com pessoas próximas a Bolsonaro por meio de um perfil oculto no Instagram.
Versões contraditórias durante o depoimento
Na última segunda-feira (9), Mauro Cid foi o primeiro a depor no interrogatório dos réus acusados de integrar o chamado núcleo central da suposta tentativa de golpe de Estado. Em quatro horas de depoimento, o militar repetiu trechos do que já havia relatado à Polícia Federal, mas demonstrou hesitação em várias respostas, recorrendo frequentemente a expressões como “não me lembro” e “não me recordo”.
Durante o depoimento, ao ser questionado pelo advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, Cid negou ter utilizado redes sociais durante o período em que esteve sob medidas restritivas. No entanto, hesitou ao ser confrontado sobre o perfil @gabrielar702: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
Defesa nega autenticidade das mensagens
A defesa de Mauro Cid reagiu à publicação da Veja, classificando as capturas de tela como “montagem” e afirmando que as mensagens não contêm data e horário, o que colocaria em dúvida sua veracidade. Os advogados também argumentaram que o estilo de escrita não condiz com o de Cid.
Apesar da negativa, se confirmadas, as mensagens apontariam para a violação direta dos termos de sua delação, que proíbem mentiras, omissões e versões conflitantes. Caso comprovado, o episódio pode levar à anulação dos benefícios concedidos ao militar no acordo de colaboração.
Contato com investigados e críticas a Moraes
Segundo a reportagem, Mauro Cid manteve contato com pessoas ligadas a Bolsonaro e criticou duramente o ministro Alexandre de Moraes. Nas mensagens, referindo-se ao ministro como “AM”, Cid teria dito que o “jogo é sujo” e que Moraes já teria uma sentença pronta para condená-lo, chegando a chamá-lo de “cão de ataque”.
As conversas teriam ocorrido entre 29 de janeiro e 8 de março de 2024, período em que Cid usava tornozeleira eletrônica, se apresentava semanalmente à Justiça e estava proibido de interagir com outros investigados ou de comentar o conteúdo de sua delação.
Nos supostos diálogos, Cid também teria reclamado da pressão durante os depoimentos e acusado o delegado da Polícia Federal de tentar induzir suas respostas. Em tom conspiratório, afirmou ainda que “o STF está todo comprometido” e que apenas Rodrigo Pacheco ou Arthur Lira poderiam “salvá-los”.
Declarações sobre Filipe Martins e defesa de Bolsonaro
Ainda segundo a Veja, Cid usou as mensagens para contestar a versão apresentada pelas investigações sobre o ex-assessor especial da Presidência, Filipe Martins. Nas mensagens, o ex-ajudante de ordens criticou as acusações de que Martins teria fugido para os Estados Unidos, chamando a narrativa de “absurda”.
Sobre Bolsonaro, Cid teria reafirmado em uma das conversas: “Eu falava que o PR não iria fazer nada”, indicando que não teria havido um plano de golpe por parte do ex-presidente.
O conteúdo divulgado pela Veja coloca em xeque a credibilidade do acordo de delação firmado por Mauro Cid com a Polícia Federal. A eventual quebra de confiança pode não apenas anular os benefícios do militar, como também enfraquecer juridicamente as investigações baseadas em seu depoimento, criando novos desdobramentos para o caso.
Leia a matéria na íntgra aqui:
Provas obtidas por VEJA mostram que Mauro Cid mentiu no STF sobre mensagens