O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) organizou um evento nesta quarta-feira (8) para relembrar os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. O ato, porém, vai além da homenagem, mantendo viva a polarização com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e reforçando a estratégia política para uma possível disputa nas eleições de 2026. Analistas consultados pela Gazeta do Povo indicam que o objetivo é pressionar a oposição e energizar a base petista.
Um Evento de Mobilização da Esquerda
Diferente do ato fechado de 2024, o evento deste ano, intitulado “Abraço da Democracia”, contará com cerimônias no Planalto, a entrega de obras de arte restauradas, como o relógio do século 17, e uma manifestação na Praça dos Três Poderes. A iniciativa busca ampliar a participação popular, mas enfrenta incertezas quanto ao tamanho da adesão em comparação com eventos anteriores.
Ausências e Estratégia Política
Diferentemente de 2024, Lula não contará com a presença de lideranças como Arthur Lira, Rodrigo Pacheco e Luiz Roberto Barroso. A ausência de figuras-chave, como Hugo Motta e Davi Alcolumbre, favoritos nas disputas pelo comando do Congresso, indica que o evento pode gerar atritos desnecessários em um momento delicado de negociações políticas.
Desgaste Econômico e Controle de Narrativa
Com indicadores econômicos desfavoráveis, como a alta do dólar e juros elevados, o ato também serve como uma tentativa de desviar o foco das dificuldades enfrentadas pelo governo. Dados do PoderData mostram que a avaliação negativa do governo subiu para 33%, enquanto a aprovação caiu para 27%.
Segundo o cientista político Elton Gomes, a estratégia busca reforçar a narrativa de que o grupo de Bolsonaro tentou subverter a democracia, consolidando a base de apoio ao governo. Contudo, o impacto fora desse núcleo é limitado, já que a polarização parece não mobilizar a maioria da população.
Manutenção de Bolsonaro no Cenário Político
Nos bastidores, há petistas que acreditam que manter Bolsonaro elegível é essencial para garantir uma polarização favorável a Lula em 2026. A lógica seria que Bolsonaro seria um adversário mais previsível do que uma eventual nova liderança política da direita ou centro-direita.
Oposição Critica Evento como Desvio de Foco
Líderes da oposição acusam o governo de manipular a narrativa para desviar a atenção de problemas como o cenário econômico e a censura nas redes sociais. Parlamentares como Luciano Zucco, Hamilton Mourão e Rogério Marinho criticaram o evento, classificando-o como uma tentativa de perpetuar uma narrativa infundada e esconder falhas de gestão.
Desafios para 2026
Embora o ato de 08/01 busque manter viva a polarização, especialistas avaliam que a estratégia pode se tornar obsoleta nos próximos anos. Nomes mais jovens e com propostas renovadas podem surgir no cenário político, deslocando Lula e Bolsonaro para papéis secundários. “O jogo da velha política precisa ser superado. Novos líderes terão de trazer soluções para um Brasil que já não aceita as mesmas disputas ideológicas do passado”, conclui o cientista político Antônio Testa.