O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a contrariar uma de suas principais promessas de campanha ao confirmar, durante viagem à Ásia, que pretende disputar a reeleição em 2026 — apesar de ter garantido publicamente que faria “apenas um mandato”.
A declaração foi feita no dia 23 de setembro, em entrevista na Indonésia, onde o petista afirmou ter “energia de 30 anos” e disposição para buscar um novo mandato. “Vou disputar o quarto mandato”, disse, rindo, ao lado de assessores e jornalistas estrangeiros.
A fala, no entanto, expõe mais uma contradição do presidente, que havia prometido aos eleitores, a apenas cinco dias do segundo turno de 2022, que não tentaria a reeleição. Em postagem publicada no então Twitter (hoje X), Lula escreveu:
“Se eleito, serei um presidente de um mandato só. Os líderes se fazem trabalhando, no seu compromisso com a população.”
A promessa, à época, foi usada como um gesto de “moderação” para conquistar o eleitorado indeciso e reduzir o desgaste político da volta do PT ao poder. Agora, com o anúncio da nova candidatura, o discurso cai por terra.
De promessa a “lapso”
A repercussão negativa foi imediata. Quatro dias depois, tentando contornar a situação, Lula disse que havia cometido um “lapso” e que sua fala sobre disputar a reeleição teria sido apenas uma “brincadeira”.
“Eu não tenho voto na Indonésia”, tentou justificar, em meio ao constrangimento.
Apesar disso, aliados do PT confirmam nos bastidores que a candidatura de Lula à reeleição já é tratada como certa dentro do partido — e que as ações de governo vêm sendo moldadas para manter o presidente em evidência até 2026.
Campanha antecipada
A fala de Lula na Ásia também levantou críticas de juristas e adversários políticos, que apontam campanha eleitoral antecipada e abuso de poder político, uma vez que o presidente usou compromissos oficiais para se promover internacionalmente.
Mesmo assim, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), frequentemente acusado de parcialidade pró-governo, não se manifestou sobre o episódio. O silêncio da Corte foi visto como mais um sinal da blindagem política de Lula, que tem contado com tolerância institucional mesmo diante de declarações que afrontam a legislação eleitoral.
Um governo de promessas descumpridas
Além de quebrar o compromisso de não disputar novo mandato, Lula também acumula outras promessas não cumpridas, como o fim do imposto sobre combustíveis, o aumento real para aposentados, a redução do preço dos alimentos e a promessa de “unir o país”.
Na prática, o governo se mostra marcado por crises econômicas, escândalos e tentativas de reeleição disfarçadas de política pública.
Com o anúncio antecipado de sua candidatura, Lula volta a mostrar o velho estilo que o consagrou na política: usar promessas em momentos de conveniência e descartá-las assim que se tornam incômodas.
“O Lula que dizia ser o presidente do povo virou o político que não cumpre a própria palavra”, resumiu um aliado de centro-direita, em tom de crítica.
A mens de 1 ano das próximas eleições, o petista já entra em modo de campanha, deixando claro que, mais uma vez, as promessas de 2022 ficaram no discurso — não na prática.