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sexta-feira, 4 outubro, 2024
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Lula, PT e Janja: O vício em apontar inimigos na política brasileira – Uma estratégia falida

Por Alexandre G.

O que une Lula chamando o ex-presidente Jair Bolsonaro de “covardão” em uma reunião ministerial, a primeira-dama Janja acusando os antecessores de roubar móveis do palácio presidencial – algo que se mostrou falso – e a exibição de fotos da família desalojada do poder em uma cerimônia de aniversário do Partido dos Trabalhadores? A resposta é: governar apontando inimigos. Constantemente mostrar à sociedade que há uma alternativa muito pior do que os atuais governantes e que é crucial evitar o retorno dessas pessoas vis.

Essa estratégia foi bastante eficaz na era pós-Fernando Henrique Cardoso. Todas as dificuldades eram atribuídas à famigerada “herança maldita”. Lutava-se para reconstruir o Brasil contra aqueles que o “quebraram três vezes”. Poucos notavam que essa luta contra o antecessor ocorria sem desmontar o legado deixado – como os parâmetros de responsabilidade fiscal ou os programas de transferência de renda, que foram mantidos com nomes diferentes, por exemplo. Essa questão técnica tinha pouca importância no embate político.

Até os próprios membros do PSDB, partido de FHC, adotaram essa crítica, chegando ao ponto de esconder seu único presidente por um longo período. Em 2010, um programa eleitoral de José Serra elogiava Lula na TV. Mesmo publicamente, os tucanos preferiam atacar seus próprios colegas de partido a defender suas realizações.

O constante ataque e crítica têm sua razão de ser na política. Basta olhar as redes sociais. Publicações hostis sobre um inimigo ou adversário têm grande repercussão. Textos sobre entregas, programas ou obras de um governo recebem muito menos atenção. A culpa é muitas vezes atribuída aos algoritmos, mas quem clica são os seres humanos, não as máquinas. Se todos preferissem ouvir Villa-Lobos em vez de procurar brigas políticas ou fofocas sobre celebridades, as redes nos ofereceriam opções de compositores da América Latina em vez de manifestações beligerantes e conspiratórias, além de atualizações sobre o Big Brother Brasil. Não é culpa dos algoritmos, é dos humanos.

Por mais de uma década, o PT atacou o PSDB. Eles eram rotulados como “de direita” (ignorando o fato de que a base de apoio do PT no Congresso estava à direita do PSDB), “fascistas”, “inimigos do povo”, “vendedores do patrimônio nacional a preço de banana”, e assim por diante. Esse embate atingiu seu ápice em 2006, quando Geraldo Alckmin foi acusado de querer privatizar a Petrobras e apareceu publicamente usando coletes da empresa. Com o passar dos anos, ficou claro que Alckmin absorveu essa crítica de maneira surpreendente e, como um personagem de Zelig, se tornou vice-presidente da República.

Apontar um inimigo é politicamente conveniente, mas não é uma estratégia duradoura. Ajuda a ganhar tempo: se a situação está ruim, culpe o inimigo; se está boa, enalteça suas conquistas. É uma prática que poderia estar no manual de todos os administradores públicos.

Para o PT, apontar um inimigo é uma cláusula fundamental em seu manual de atuação. No governo Lula, o Banco Central independente foi culpado pelo baixo crescimento econômico, e o Departamento de Estado americano foi acusado de fomentar a Lava Jato. O governo petista talvez não esperasse a atual resistência da sociedade a esses discursos de apontar um culpado para os males do Brasil.

No entanto, atacar um inimigo que também conta com uma base de apoio ativa não é tão eficaz como antes. Ao atacar o PSDB, não havia ninguém para defendê-los. Mas ao atacar Bolsonaro, há uma resposta imediata. Dizer que são de direita leva a uma resposta do tipo: “sim, somos, e daí?” seguida de uma série de insultos aos petistas. O jogo político ficou mais agressivo, mas mais equilibrado.

Embora Bolsonaro seja um alvo fácil – com suas ações questionáveis durante a pandemia, por exemplo – ele tem um grande apoio, o que faz diferença na política.

Em um Brasil cada vez mais polarizado, atacar um inimigo que também conta com uma base de apoio ativa não ajudará a aumentar os níveis de popularidade do governo. E quem está no meio percebe que está sendo manipulado. Quando dois grandes grupos brigam, quem está de fora acaba sem energia para constituir sua própria força política.

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