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quarta-feira, 2 outubro, 2024
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Lula monta ‘círculo secreto’ de conselheiros para controlar o Brasil: ex-presidiários e envolvidos em escândalos na lista

Por Marina B.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está buscando opiniões externas ao governo sobre uma variedade de questões, que vão desde política até economia. Nestas interações, Lula costuma buscar conselhos sobre como lidar com crises, estabelecer relações com o Congresso e até mesmo interpretar julgamentos em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A intenção é formar um grupo de conselheiros capazes de oferecer sugestões e indicar formas de corrigir eventuais equívocos.

Algumas das pessoas consultadas por Lula, de forma informal, têm histórico de colaboração com ele ou com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Na lista estão o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, o publicitário Sidônio Palmeira, responsável pela campanha de 2022, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha. Em 2021, Gabrielli foi implicado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), juntamente com outras seis pessoas, pela aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Por sua vez, João Paulo foi implicado no escândalo do mensalão, em 2005.

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, o presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto, e o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, também integram o grupo de conselheiros. Dentro do governo, os mais solicitados para opinar são o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim.

Na semana passada, por exemplo, Lula optou por manter Jean Paul Prates na presidência da Petrobras, após rumores sobre sua possível saída. Haddad auxiliou na articulação para garantir a permanência de Prates.

“Eu apenas respondi a uma pergunta específica”, diz Haddad

Nos bastidores, a atuação de Haddad em defesa da distribuição dos dividendos extraordinários da estatal foi criticada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, desafeto de Prates.

“Mas fui consultado pelo chefe dele, que é também o meu chefe”, disse Haddad. “Havia uma controvérsia. E a pergunta que o presidente queria que eu ajudasse a responder era: ‘Haverá problema de liquidez para o plano de investimento da Petrobras?’ Respondi: ‘Não haverá’. Não busquei resolver nada, nem tomar partido de ninguém. Apenas respondi a uma pergunta direta”, descreveu o ministro, para quem toda a agitação em torno da Petrobras foi “surreal”.

Gabrielli, por outro lado, foi consultado por Lula não apenas sobre quem estava certo nesse impasse, mas também sobre outras polêmicas envolvendo a Petrobras, como a solicitação da empresa para realizar prospecção de petróleo na foz do Rio Amazonas.

O tema divide os ministérios do Meio Ambiente, de Minas e Energia, o Ibama e a própria Petrobras. Na opinião de Gabrielli, que sempre considerou sua condenação pelo TCU como um “processo kafkiano”, a empresa deve prosseguir com o plano de exploração. “O pré-sal é crucial, mas não é eterno”, afirmou ele ao Estadão, ainda no ano passado, quando o confronto veio à tona.

No campo político, João Paulo Cunha é visto no Palácio do Planalto como uma espécie de coringa, tanto para assumir um ministério quanto para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados, em 2026.

Após ser condenado no caso do mensalão, João Paulo estudou Direito, escreveu livros e sua banca de mestrado contou até com o ministro do STF Gilmar Mendes e o atual procurador-geral da República, Paulo Gonet.

O petista que já foi preso é hoje sócio de escritórios de advocacia em São Paulo e Brasília, tem trânsito em vários partidos e mantém bom relacionamento tanto com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, quanto com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), os adversários atuais na cena política.

Além disso, ele continua próximo de Lula e do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que também enfrentou problemas no caso do mensalão.

Dirceu está se preparando para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados daqui a dois anos, mas não tem conversado tão frequentemente com o presidente. “Quando ele quiser me encontrar, sabe onde estou”, resumiu.

A irritação do presidente com o ataque de Lira a Padilha é evidente, e Lula fez questão de deixar claro que o ministro de Relações Institucionais permanecerá no cargo. Ele disse aos aliados que não tolerará uma política de “faca no pescoço”. Essa disputa pode até influenciar na eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro de 2025, se o Planalto decidir se opor a Lira.

Em conversas reservadas, Lula também expressou sua intenção de fazer mudanças significativas no governo. Ele chamou Sidônio Palmeira para melhorar sua própria imagem e a de ministros como a da Saúde, Nísia Trindade, em um momento de queda de popularidade.

“Se cada um só falar sobre suas próprias áreas, seus próprios ministérios, não adianta”, afirmou Lula, em 21 de janeiro, ao lançar o Plano Juventude Negra Viva, que visa reduzir a violência relacionada ao racismo. Ele acredita que a equipe precisa alinhar seu discurso e destacar as realizações do governo como um todo. “Se não fizermos isso, o programa lançado se tornará natimorto”, reclamou.

Essa crítica é cada vez mais comum em conversas privadas. Com base nessa avaliação, Lula decidiu testar seus assessores para ver quais mudanças serão necessárias, especialmente na “cozinha” do Planalto.

Antes de fazer uma reforma ministerial, ele retomará as reuniões de segunda-feira da coordenação política, que não ocorrem há quase dois meses, na esperança de promover uma organização mais eficaz no núcleo central do governo.

Os encontros costumavam contar com a participação de Padilha, Haddad, Rui Costa (Casa Civil), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) e os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), no Senado, Jaques Wagner (PT-DF), e no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).

Entretanto, de acordo com a agenda oficial do presidente, a última reunião desse tipo ocorreu em 19 de fevereiro.

Dois interlocutores de Lula disseram ao Estadão, em condição de anonimato, que o governo está sofrendo as consequências da “desorganização política”. Isso não é uma crítica a Padilha, como alega Lira, mas sim à falta de coordenação, que resulta em uma rotina de conflitos e desencontros.

Há muitas disputas na equipe. Por exemplo, Rui Costa atribuiu ao diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, o vazamento da delação da empresária Cristiana Prestes Taddeo, que o citou em uma fraude na compra de respiradores durante a pandemia de Covid-19. O caso foi revelado pelo portal de notícias UOL.

O chefe da Casa Civil, que na época era governador da Bahia, negou qualquer irregularidade. Além disso, como Costa não tem um bom relacionamento com Haddad, ele também suspeita da participação dos auxiliares do ministro da Fazenda no vazamento. Haddad e Costa são pré-candidatos à sucessão de Lula em 2030.

Dentro do PT, é amplamente aceito que dois ministros deixarão seus cargos: Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, e o titular do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, ambos filiados ao partido.

Macêdo pode ser transferido para outro cargo e Dias deve voltar ao Senado. Lula avalia que, embora ambos trabalhem bastante, não têm conseguido produzir resultados para fortalecer a base de esquerda. Edinho Silva, prefeito de Araraquara, é cotado para assumir a presidência do PT em 2025, ou até mesmo substituir Paulo Pimenta na Secretaria de Comunicação Social.

Falta um “atacante” no governo Desde que Flávio Dino deixou o Ministério da Justiça para ocupar uma vaga no STF, Lula não conta mais com alguém que faça o contraponto com os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Preencher a lacuna de “atacante” na equipe é considerado essencial, especialmente neste ano de eleições municipais.

No entanto, Dino se tornou um interlocutor de Lula no Supremo, assim como os ministros Cristiano Zanin, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Até mesmo Kassio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro, se aproximou do presidente depois que ele escolheu o juiz João Carlos Mayer Soares como desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Vale ressaltar que Mayer Soares também tinha Lira como padrinho.

Apesar de consultar advogados e magistrados sobre a revisão dos acordos de leniência firmados no contexto da Lava Jato, Lula até agora não procurou Dias Toffoli para uma conversa particular.

As decisões favoráveis à J&F e à Novonor (antiga Odebrecht) foram proferidas por Toffoli. No caso da J&F, o ministro suspendeu a multa de R$ 10,3 bilhões decorrente do acordo firmado com o Ministério Público, atendendo ao pedido da empresa para ter acesso ao material obtido pela “Operação Spoofing”.

No entanto, assessores de Lula afirmam que ele ainda guarda ressentimento de Toffoli. O problema remonta a 2019, quando Lula estava preso e o magistrado negou permissão para que ele comparecesse ao velório do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, em São Bernardo do Campo (SP).

Anos depois, Toffoli explicou que não liberou Lula – que o havia nomeado para o STF dez anos antes – porque temia confrontos nas ruas entre apoiadores do PT e seguidores de Bolsonaro. Na ocasião, ele autorizou Lula a se encontrar com a família em uma unidade militar na região do ABC paulista, permitindo que o corpo de Vavá fosse levado para lá. Lula recusou e nunca esqueceu o incidente.

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