Presidente brasileiro demonstrou preocupação com ações dos EUA no Caribe e sinalizou apoio ao regime venezuelano
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou de forma reservada e amistosa com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, na semana passada. Durante o telefonema, Lula manifestou preocupação com as incursões e a presença militar dos Estados Unidos no Caribe e indicou disposição do Brasil em oferecer apoio político ao governo venezuelano. A informação foi revelada pela colunista Janaina Figueiredo, do jornal O Globo.
Segundo fontes ouvidas pela jornalista, a conversa ocorreu na terça-feira, dia 2, e teve tom cordial. Lula teria alertado sobre o que classificou como “assédio militar americano” na região e reiterado que o Brasil estaria disposto a colaborar diante de uma eventual escalada de tensões.
Esse foi o primeiro contato direto entre os dois presidentes em 2025. De acordo com os relatos, ultimatos feitos pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, que pressionam Maduro a deixar o poder, não foram mencionados durante a ligação.
Estratégia diplomática e possível mediação
A motivação exata do telefonema não foi oficialmente esclarecida. No entanto, interlocutores do governo brasileiro afirmam que manter canais de diálogo com Caracas é considerado estratégico, sobretudo diante das movimentações diplomáticas entre Estados Unidos e Venezuela. A avaliação é de que o Brasil poderia ocupar um papel de mediador internacional em eventual negociação.
A recente visita do empresário Joesley Batista a Caracas também entrou no radar das autoridades brasileiras. Embora o governo negue qualquer participação na agenda do empresário com Maduro, fontes reconhecem que o encontro contribuiu para o entendimento de que o momento seria oportuno para retomar o contato direto com o regime venezuelano.
Isolamento internacional de Maduro
Nicolás Maduro raramente deixa a Venezuela, por receio de possíveis detenções no exterior, diante do aumento de denúncias internacionais contra seu governo. Organismos ligados à ONU reconhecem violações sistemáticas de direitos humanos no país, incluindo perseguição a opositores e repressão violenta a protestos populares.
Além do Brasil, outros países buscam interlocução com Caracas. A Turquia, por exemplo, também entrou em contato recentemente com o ditador venezuelano. O presidente Recep Tayyip Erdogan conversou com Maduro no fim de semana anterior, e os dois governos confirmaram oficialmente a troca de análises sobre o cenário militar dos EUA no Caribe.
No caso brasileiro, o contato não foi divulgado por canais oficiais. Lula já havia se posicionado publicamente contra pressões militares norte-americanas, inclusive em discurso na última Assembleia Geral da ONU.
Durante a ligação, Maduro teria negado as acusações feitas pelos Estados Unidos de que lideraria um cartel internacional de drogas, classificando como “absurda” a tese de que entorpecentes consumidos em território americano teriam origem na Venezuela.
Relação histórica entre Lula e Maduro
Lula e Maduro mantêm uma relação política histórica. Em 2023, o presidente brasileiro recebeu o ditador venezuelano em Brasília com honras de chefe de Estado, gesto que gerou críticas dentro e fora do país.
A relação sofreu desgaste em 2024, após denúncias de fraude eleitoral nas eleições venezuelanas de julho, apontadas por organismos independentes. O governo brasileiro optou por não reconhecer oficialmente o resultado do pleito e, posteriormente, não apoiou a entrada da Venezuela no Brics, proposta por Rússia e China durante a cúpula realizada em Kazan.
O impasse também levou à suspensão das negociações sobre a dívida venezuelana com o Brasil, estimada em cerca de US$ 1 bilhão, valor oriundo de empréstimos concedidos durante governos petistas ao regime de Caracas.