O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou um forte tom ideológico em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira (24), direcionando suas críticas e defesas para temas globais sensíveis, mas ignorando a crise na Venezuela. Enquanto atacava Israel e defendia a ilha comunista de Cuba, o petista evitou mencionar o regime de Nicolás Maduro, com quem retomou laços diplomáticos ao assumir o cargo em 2023.
Omissão sobre a Venezuela
Apesar da situação grave na Venezuela, onde o regime de Maduro continua a enfrentar acusações de fraude eleitoral e violações dos direitos humanos, Lula não fez qualquer referência ao país em seu discurso. Desde que assumiu a presidência, Lula tem defendido o reestabelecimento das relações diplomáticas com o governo venezuelano, apesar das críticas internacionais à condução do governo Maduro, que forçou mais de 125 mil venezuelanos a buscar refúgio no Brasil. No entanto, o presidente optou por ignorar completamente essa crise durante sua fala na ONU.
Foco no Oriente Médio
Em contraste, Lula concentrou grande parte de sua atenção no Oriente Médio, especialmente na questão palestina. Ele iniciou sua fala saudando a presença da delegação palestina, que participou pela primeira vez da Assembleia-Geral como membro-observador, além de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina.
Lula criticou duramente as ações de Israel em resposta aos ataques terroristas do Hamas. Sem mencionar diretamente Israel, o presidente afirmou que “o direito de defesa transformou-se num direito de vingança”, referindo-se à escalada de violência na Faixa de Gaza e Cisjordânia, e alertou para a expansão do conflito ao Líbano.
Essa abordagem de Lula gerou reações, especialmente por sua omissão quanto às vítimas israelenses e sua insistência em tratar a resposta israelense como “punição coletiva” ao povo palestino.
Defesa de Cuba e críticas ao capitalismo
Lula também usou seu tempo na ONU para defender a ilha comunista de Cuba. Ele afirmou que é “injustificável” manter Cuba em uma lista de países que supostamente apoiam o terrorismo e criticou as sanções impostas pelos Estados Unidos. Para Lula, essas medidas “penalizam indevidamente as populações mais vulneráveis”.
Em nenhuma parte de seu discurso o presidente fez referência à repressão interna em Cuba ou aos direitos humanos da população cubana, mantendo a tradição do PT de evitar qualquer crítica ao regime castrista.
Além de temas geopolíticos, Lula aproveitou para atacar as plataformas digitais e a iniciativa privada, defendendo a regulação econômica como o caminho para combater as desigualdades globais.
Repercussões
A ausência de menção à Venezuela em um momento de crescente tensão interna no país vizinho foi amplamente notada. Muitos esperavam que o presidente brasileiro, que recentemente reaproximou o Brasil do regime Maduro, comentasse sobre as eleições fraudulentas de julho ou a crise humanitária que tem levado milhares de venezuelanos a fugir para outros países da América Latina.
Com esse discurso, Lula reforça uma agenda ideológica que se alinha com regimes autoritários da América Latina e provoca reações contrárias ao se posicionar de forma crítica a Israel e aos valores defendidos por potências ocidentais.