O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem sido alvo de críticas contundentes por sua postura em relação ao compromisso fiscal, acusado de subestimar a importância de uma política econômica responsável.
O editorial do Estadão desta quarta-feira (18) reforça essa percepção, apontando a disparada do dólar e a deterioração da confiança do mercado como reflexos diretos dessa abordagem.
Na segunda-feira (16), o dólar atingiu R$ 6,09, um recorde histórico, apesar de intervenções do Banco Central (BC), que injetou mais de US$ 4 bilhões em dois leilões cambiais. No dia seguinte, o câmbio chegou a tocar R$ 6,20 antes de recuar, graças ao anúncio de Arthur Lira, presidente da Câmara, sobre a aceleração da votação de medidas de corte de gastos propostas pelo governo.
Falta de confiança no Governo
Segundo o editorial, o principal problema não é apenas a fragilidade das medidas fiscais apresentadas, mas a resistência de Lula em mostrar seriedade no ajuste fiscal. A atuação de parlamentares da base aliada para enfraquecer essas propostas agrava ainda mais a situação, provocando alta nos juros futuros e reforçando o ceticismo do mercado.
O governo parece operar em um “universo paralelo”, segundo o jornal, ignorando que o mercado reage não só aos indicadores atuais, mas às perspectivas futuras. Técnicos do Ministério da Fazenda defendem que os fundamentos econômicos brasileiros não justificam o movimento cambial atual, mas o mercado discorda, projetando um cenário de saída de capital, alta de juros e crescente endividamento.
A desvalorização do real é especialmente preocupante em um contexto de inflação crescente. O dólar mais alto encarece produtos e insumos importados, pressionando os preços ao consumidor. Nos 12 meses encerrados em novembro, a inflação acumulada atingiu 4,87%, acima do teto da meta, enquanto índices como o da construção civil já ultrapassam 6%.
O editorial também critica a suposta estratégia do governo de priorizar ganhos eleitorais de curto prazo, mirando 2026, sem considerar os danos que uma inflação elevada pode causar aos mais pobres — o principal eleitorado do presidente. Essa postura, avalia o Estadão, é equivalente a “brincar com fogo”, confiando que o mercado se ajuste sozinho, enquanto a economia real sofre as consequências.
A gestão Lula enfrenta um momento crucial, em que sua credibilidade econômica está em jogo. A disparada do dólar e a desconfiança do mercado refletem uma demanda clara por maior seriedade fiscal. Sem ajustes significativos, os impactos serão sentidos tanto na economia quanto na base eleitoral que sustenta o governo, comprometendo a estabilidade e os objetivos políticos de longo prazo.